Porque é que temos sempre de nos embrulhar em discursos redondos, inconclusivos, retóricos? Porque é que a decisão necessária, claramente assumida, tem de parecer o jogo da cabra cega do Goya? O iOnline de há dias publica uma notícia sobre o plágio entre os estudantes universitários. Aparentemente, 40-60% dos nossos estudantes já caiu nisto. Não me surpreende, já apanhei muitos. Em boa parte, é incúria dos professores. A descarga de textos da net é muitas vezes evidente, principalmente pelos brasileirismos, e há instrumentos informáticos poderosos – tenho-os na minha universidade – para detectar o plágio.
Simplesmente, muitos professores estão-se nas tintas, aqueles que, nas públicas e principalmente nas privadas, têm um arranjinho de duas a quatro horas por semana, com aulas preparadas há cinco ou dez anos atrás e nunca actualizadas. E até nem culpo inteiramente as universidades por esta situação. Em muitos casos, são esses “professores”, políticos, empresários, que querem um título universitário para abrilhantar o currículo. O caso Relvas foi caricato, mas há outros mais “sofisticados”.
O que me surpreende no artigo do jornal é andar a divagar sobre diversas caracterizações do fenómeno sem ir ao essencial. Que é “um problema muito sério, fraturante e global”, lá tinha de vir o discurso redondo de vazio semântico. Que contribui para o baixo nível de desenvolvimento social, económico e político de um país. Ídem. Que acaba por formar “ativos tóxicos” (tem graça, esta).
E lá vem o efeito social: “são pessoas que vão para o mundo do trabalho sem terem as qualificações necessárias para a sua futura vida profissional”.
E ninguém diz, preto no branco, o essencial: estes jovens, por jovens que sejam, são criminosos, desprovidos de ética e não merecem estar numa universidade que gasta com eles muitos dos nossos recursos de contribuintes. Pura e simplesmente, a fraude académica deve implicar a expulsão da universidade. Sem mais, é tudo. Leiam o código de conduta de Harvard e das outras da Ivy League.
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