quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Descamisados

Um dos resultados destas autárquicas que certamente mais fará pensar é o de Oeiras. Por interposto candidato, figura burlesca que só vi na noite de domingo, um criminoso condenado ganhou as eleições do mais escolarizado concelho do país. Ambas as coisas merecem atenção mais cuidada.

Isaltino “roubou mas fez”. Isto pode significar uma atenuação do significado do roubo por parte das pessoas comuns? Não me parece que seja assim, tanto mais quanto se ouve todos os dias a vociferação contra os ladrões do governo. É que o sentir neste caso do governo é diferente, é de gente que sente que lhe estão a ir ao bolso. O governante está a roubar o país, nem se pondo a questão da corrupção, e, com isto, rouba o indivíduo concreto a quem diminui salário, pensão e benefícios sociais.

Isaltino não está condenado por roubo mas por corrupção. Enriqueceu, mas não directamente à custa de indivíduos, que não o viram ir-lhes ao bolso. Claro que, indirectamente, foi. Se fez uma obra por 100, ficando com 30, a obra podia ter sido feita por 70 e os 30 terem beneficiado o município e a sua população. E nem vou entrar na questão da ética do serviço público, na pedagogia democrática da despenalização cívica do criminoso.

A tal coisa do concelho culturalmente avançado é um mito. Vivi alguns anos em Oeiras (embora oficialmente na fronteira com o concelho vizinho) e sei que essa tal elite tem Oeiras apenas como dormitório. Nem às reuniões da escola dos seus filhos vai. Esses votaram nos partidos convencionais. Quem eu vi na sede da campanha isaltiniana, na noite de domingo, foi a classe baixa e imigrantes dos antigos bairros degradados, depois recuperados por Isaltino. Se os educados se demitem, a democracia pode correr riscos de populismo e caciquismo. 

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