Paradoxalmente, isto é auxiliado pelo afastamento destas lides e correcção de intyervenção e de fixação de usos por parte de muita gente com responsabilidade. Por exemplo, conheço um bloguista que escreve com frequência mas que raramente lê o que se publica na blogosfera. Conheço leitores ávidos que desconhecem que um Kindle ou outro que tal lhes permite levar para o café centenas ou milhares de livros. Conheço um jornalista respeitado que nem sequer tem endereço electrónico e a quem é impossível mandar observações às suas críticas e crónicas. É também conhecido o caso de um escritor famoso que só escreve à mão, certamente para grande mal dos editores e revisores. Se todas estas pessoas vencerem a sua info-iliteracia, contribuem para maior seriedade da leitura online e para que ela não seja vista como coisa menor.
Fiz uma contagem sumária e aproximada do número médio de caracteres das entradas dos blogues que leio obrigatoriamente. Anda pelos 1400-1500. Há desvios grandes, como o meu velho amigo Medeiros Ferreira que faz entradas estilo haiku, de três ou quatro linhas, até outro caro amigo, Correia Pinto, que reflecte aprofundadamente, muitas vezes para cima de 4000 caracteres. Há ainda os casos particulares dos que transcrevem para blogues crónicas de jornais com a respectiva dimensão, relativamente generosa, como José Vítor Malheiros ou Daniel Oliveira. Também dimensão característica, geralmente curta, para os blogues mais marcadamente panfletários (sem ofensa) com menor extensão de argumentação.
Porque escrevo assim? E é que, por me parecer estar a fazer discurso de comício (claro que a maioria dos meus colegas bloguistas não o faz), não me apetece sequer escrever a nota curta, embora sabendo que a capacidade de síntese é uma virtude retórica. Como é costume atribuir-se ao Pe. António Vieira uma apostila em que pede desculpa de uma carta ir muito longa por não ter tido tempo para a escrever mais curta.
Devia gostar de escrever na net como telegramas, porque até tenho boa experiência, de décadas de escrita de artigos científicos, em inglês, em que o editor não permitia estiramentos. Simplesmente, tratava-se de escrita sobre assuntos relativamente lineares (a ciência banal é muito mais chata do que pensam e do que se deduz do marketing dos sucessos que enchem os jornais). Também para leitores que sabiam do assunto tanto ou mais do que eu e que avaliavam os resultados sem eu precisar de grande discussão. Finalmente, admito, não estava a tentar “passar” posições políticas ou ideológicas. Creio que contribui para esta minha habitual extensão de textos o respeito pelo leitor, a quem quero dar toda a informação necessária para que possa construir o seu juízo. Se calhar, também o hábito longo de escrever artigos para o meu sítio, antes de ter blogues.
Terá de ser mesmo assim o tal paradigma de textos curtos, de intervenção quase de sound bites, ou com muito pouca elaboração para além de teses? Leia-se um artigo muito interessante transcrito há tempos pelo Público, “Leia este artigo mais tarde” que analisa, com dados científicos, a mudança dos hábitos e capacidades de leitura e em que se dá conta do crescente sucesso de aplicações desenhadas para guardar, etiquetar e recordar artigos desenvolvidos que os afazeres do dia não permitem ler, considerando-se como longo um artigo com mais do que 15000 caracteres. Vale a pena ler.
[*] Como disse acima, não tenho nada contra o uso judicioso de anglicismos mas, por vezes, há coisas que revelam ignorância crassa e total desrespeito pela nossa língua. Quantas vezes já leram posta, como tradução (?) de post de um blogue? Blog é a contracção de “web log”, sendo “log” ou “log book” o diário de bordo, em que se faziam posts ou, em Portugal, entradas. Agora postas, só à transmontana e grelhadas!
P. S. (25.9.2013) – Depois da edição substancial que expliquei em P. S. ao texto, hoje, ele ficou com cerca de 9700 caracteres.
P. S. (25.9.2013) – Depois da edição substancial que expliquei em P. S. ao texto, hoje, ele ficou com cerca de 9700 caracteres.
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