Uma imagem explicativa da dialéctica é a espiral. Andamos em circunferência, voltamos a andar e tudo parece o mesmo, na horizontal. Afinal, a cada volta, subimos também na vertical, ganhamos nova qualidade, a circunferência de cima já não é igual à de baixo. A perspectiva antidialéctica do lugar dos partidos é o que chamei de perspectiva geográfica. Não quero um partido no mesmo plano dos outros, quero num plano superior, a outra volta da espiral. Pelo contrário, a visão de Rui Tavares (RT) e do seu LIVRE é esquemática, mecanicista, antidialéctica (já agora, antimarxista, mas isto de marxismo não é coisa obrigatória para quem quer falar de esquerda, embora não fizesse nada mal).
Na prática, porém, vê-se facilmente que o seu posicionamento é outro. Nunca mais fala do vértice PCP, só dos outros. “Sinto-me bem com muita gente do PS e do BE, da ala mais moderada do BE e da ala mais à esquerda do PS”. Não se pode ser mais claro. Mas isto diz alguma coisa a todos os muitos eleitores confusos, não representados? Querem eles saber do que é o espaço geopartidário das elites partidárias ou dos órfãos dos partidos? Ou dos eternos oscilantes da ala esquerda do PS, que se passaram para o BE e que agora não sabem onde estão? Isto é o problema estrutural dos saudosistas sociais-democratas, por quem tenho simpatia como companheiros de luta, mas a quem só posso dizer “assumam-se, lutem”.
Tenho muita estima pela social-democracia europeia dos anos 50 e 60, que mais não fosse pela solidariedade que lhe devemos, bem como os movimentos de libertação das ex-colónias. Mas que o PS não é social-democrata, que, na onda blairiana da terceira via adoptou o neoliberalismo, é coisa indiscutível. Para mim, o LIVRE quer reocupar o espaço perdido da social-democracia em Portugal.
Muito bem, mas assuma-se. Não vai estar no tal estranho meio da esquerda, nem no “espaço moderado” do BE, vai querer é ser o “verdadeiro partido socialista”. Veremos o que isto vai dar. Mas, meus amigos, sejam honestos. São próximos do PS, sempre foram, estiveram envergonhados pelas socratices e pela moleza de Seguro, não venham agora dizer que querem alguma coisa distinta do PS. Querem, de facto, é coisa que lhes permita sentarem-se sem problemas à mesa de conversa com o PS.
Também os seus apoiantes. Tenho recebido muitas mensagens sobre este tema, numa lista de e-mail remanescente de um grupo político entretanto desaparecido. Com todo o respeito pelo seu direito de opinião, noto na maioria uma grande hostilidade ao PCP e alguma frustração em relação à eficácia do BE (perder metade dos votos é coisa difícil de aceitar por revolucionários de entre hoje e amanhã, sem sentido do tempo histórico).
E tenho memória de elefante. Esse grupo, de certa forma herdeiro da campanha Alegre, foi desafiado por mim e outros a avançar para partido, o que não venceu. Creio que, dos oponentes, alguns estão agora neste projecto “livre” de aproximação ao PS. Justifica-me pensar que é o que sempre quiseram. Também um movimento importante, que na altura contactei e que não estava disponível para um novo partido, a Renovação Comunista. Está nesta coisa de RT?
Continuarei a escrever.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário. Os comentários de leitores não identificáveis não serão publicados.