É das mais antigas desonestidades intelectuais: quando não se consegue desacreditar uma ideia ou uma proposta, tenta-se desacreditar o autor. Cheguei quase por acaso a um exemplo recente, que ilustra algum desespero com que estão economistas académicos da corrente mais ultraliberal para manterem os seus dogmas austeritários depois de desmistificados casos como Alesina-Ardagna ou Rogoff-Reinhart.
Numa entrada recente, Paul Krugman escreve: “Please tell me this report is false!” (“por favor, digam-me que esse relato é falso!”). Fui ver o artigo de Tom Kostigen no Finantial Advisor, em que ele relata que, numa conferência internacional na California, o professor de Harvard Niall Ferguson afirmou que a filosofia económica de Keynes era deficiente porque, sendo Keynes homossexual e não tendo filhos, não se preocupava com as gerações futuras. Inacreditável!
Quem diz Keynes se calhar diz toda a comunidade gay que porventura vive acima das suas possibilidades. É a homofobia em grau máximo, mas é também uma enorme estupidez e uma loucura. Estão a ver as consequências políticas, quando já larva o populismo perigosamente com potencial proto-fascista?
NOTA - Há outras formas mais subtis de tentar descredibilizar o adversário. Ainda há pouco tempo vi um exemplo de técnica de sobranceria paternalista (“patronizing”) no debate sobre a saída do euro, no Prós e Contras. A reforçar o débito de posições convencionais que não respondiam à ousadia de propostas do lado pró, os contras arvoraram sempre um sorriso e expressão de quem estava a ouvir patetices de um jovem aluno que seria chumbado no fim do exame.
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