Disse aqui há dias que a emergência de uma política alternativa, mormente a nível da criação de novos partidos, está capturada pela “boa imprensa”, pelo domínio das “sound bites”, pela imagem telegénica dos protagonistas, com a empatia a valer mais do que as ideias.
O caso mais flagrante desta tendência (entre nós demonstrada pelo Livre) é o sucesso repentino do novo partido espanhol, o Podemos. Antes, distingamos, na situação portuguesa, os fenómenos do Livre e do MPT. O Livre capta votos, mais de 2%, claramente na esquerda, enquanto que o MPT, pelo populismo de Marinho (e) Pinto, faz uma colheita transversal, como sempre foi regra dos populismos, incluindo os proto-fascistas.
O promotor do Podemos, Pablo Iglesias, é um dos mentores de um programa televisivo de grande audiência, o “La Tuerka”. Tem um estilo forte, de comunicação muito empática e abordando problemas concretos de forma muito directa, mas sem um “plano de fundo” que os espectadores possam considerar como cassete. Fica Iglesias como figura que vai ao coração das pessoas com queixas, sem precisar de um programa político. Assim, o programa do Podemos é teoricamente muito limitado: ênfase na democracia directa, movimentos de cidadania, militância em círculos e rede (?).
No entanto, concretiza-se em propostas apelativas, verdadeiramente de esquerda consequente, como, por exemplo: “Plan de rescate ciudadano centrado en la creación de empleo decente en los países del sur de Europa; Auditoría ciudadana de la deuda; Conversión del BCE en una institución democrática para el desarrollo económico de los países; Reorientación del sistema financiero para consolidar una banca al servicio del ciudadano; Recuperación del control público en los sectores estratégicos de la economía; Política tributaria justa orientada a la distribución de la riqueza y al servicio de un nuevo modelo de desarrollo”.
Tome-se também em conta que estas posições políticas programáticas como bandeiras pouco elaboradas invocam as palavras de ordem e as motivações de movimentos um pouco anarquizantes, como os Indignados 15M. Uma coisa e outra, resultando no sucesso do Podemos, são um desafio à nossa esquerda partidária convencional.
Isto tem entre nós dois exemplos instrutivos. O primeiro foi a criação, tecnicamente fácil, do novo partido Livre. Como discuti aqui e noutras entradas antes referidas nessa, entendo que o seu programa é confuso, até oportunista, mas com coisas na moda de que os jornalistas precisam para atrair o leitor. Estou convencido de que muitos dos seus apoiantes foram atraídos principalmente pelo mediatismo de Rui Tavares. Assim, não é de estranhar que o “revolucionário”, pós-moderno e “radical-democrático” processo das primárias abertas (coisa americana que um dia destes discutirei aqui) tenha resultado numa destacada escolha de Rui Tavares como cabeça de lista, tal como se passou com Pablo Iglesias em Espanha.
Isto tem entre nós dois exemplos instrutivos. O primeiro foi a criação, tecnicamente fácil, do novo partido Livre. Como discuti aqui e noutras entradas antes referidas nessa, entendo que o seu programa é confuso, até oportunista, mas com coisas na moda de que os jornalistas precisam para atrair o leitor. Estou convencido de que muitos dos seus apoiantes foram atraídos principalmente pelo mediatismo de Rui Tavares. Assim, não é de estranhar que o “revolucionário”, pós-moderno e “radical-democrático” processo das primárias abertas (coisa americana que um dia destes discutirei aqui) tenha resultado numa destacada escolha de Rui Tavares como cabeça de lista, tal como se passou com Pablo Iglesias em Espanha.
O segundo, pela negativa, foi o fracasso do 3D, que podia ter contado com a imagem de Daniel Oliveira. Não me parece haver dúvidas de que ele tem ambições políticas, embora diga sempre que a sua escrita é de análise desinteressada. O 3D foi um fracasso incompreensível quando se pensa na experiência política da generalidade dos seus subscritores. Como é que puderam admitir o sucesso de uma OPA ao Bloco de Esquerda, só porque se dizia que a sua existência era virtual? Não sabiam do espírito de “hold the fort”? Mais, como julgavam corresponder ao desejo visível de convergência de esquerda eliminando à partida da sua gama proposta de conversações o PCP?
Também isto marca uma diferença em relação ao Podemos, que se desmarca claramente de qualquer convergência com o decadente PSOE, enquanto que algumas novas movimentações portuguesas, incluindo o Livre, parecem atraídos pela aliança com o PS. Desculpando-me da ironia, muito bem fez a Renovação Comunista, namorada pelo 3D. Isto de ficar preso a manifestos de gente bem pensante mas mal actuante é uma chatice. Mais vale ir logo a jogo, apoiando o PS.
NOTA – Porque não se aliaram a Izquierda Unida e o Podemos, tão próximos que são os seus programas? Não é fácil perceber, porque a vasta informação sobre isto nos confunde. Vou tentar estudar e logo escreverei alguma coisa.
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