Neste fim de tarde de ida à rua, escrevo com desgosto. À boa maneira de uma velha atitude política, podia fazer como a avestruz, para não fazer o jogo do adversário, mas o dever de um revolucionário racionalista é o de encarar as coisas de frente e tirar lições.
Não comentei o semi-fracasso da manifestação da CGTP, há uma semana. Não me senti com domínio dos factos. Foi a confusão da proibição, o provável receio de insegurança, também a chuva? Honestamente, creio que não estariam mais de 10.000 manifestantes. Hoje a do “Que se lixe a troika” foi muito pior, em fracasso. Encheu o lado poente do Rossio, não mais do que 5000 pessoas.
Ao contrário do que esperava, como escrevi há dias, não vi lá a “malta típica da CGTP”, apesar de ter visto Arménio Carlos e mais alguns seus camaradas da CGTP. Não vi quadros partidários conhecidos e até nem vi personagens mediáticas conhecidas, que tanto apelam “a la calle” nos seus blogues. Também desapareceram muitos dos manifestantes do 12 de Março (quantos do PSD então anti-socráticos e hoje acomodados conflitualmente entre a formatação ideológica e a sensação de serem roubados?). Também não os engraçados acampados do Rossio, que só o guru coimbrão levou a sério.
O que se passa? O povo está anestesiado? Ou não tem confiança em quem lhe apela para sair à rua? Ou já não acredita em nada, nem em partidos nem em movimentos não partidários, nem na sua voz e no seu poder na rua?
Tenho escrito muitas vezes a defender a necessidade de um novo partido. Não é um partido a querer ocupar seja que espaço for, entre X e Y, mas um partido que seja diferente na igualdade (noutra entrada discutirei isto), que traga mais esquerda à esquerda. No entanto, infelizmente, e como vi hoje, é “wishful thinking” pensar que esse partido pode ser criado atempadamente.
Parece-me que está a haver uma separação, porventura por razões instrumentais, entre quatro esferas da intervenção da esquerda: partidos, sindicatos, organizações não partidárias, movimentos. Não falo dos dois primeiros casos, bem conhecidos.
As organizações não partidárias têm sido relativamente fluidas, pouco eficazes e por vezes contaminadas de início, como é o caso da Intervenção Democrática, uma criação do PCP depois do Ipiranga do MDP, em que participei (bem como o partido dos Verdes, cuja história conheço bem e sobre a qual não me digno pronunciar-me).
Cronologicamente, vem a Renovação Comunista. É um simpático grupo de amigos, alguns da minha boa lista pessoal, mas não vale mais do que isso. Também os movimentos, se lhes podemos chamar assim, derivados das candidaturas de Manuel Alegre, reféns da falta de coragem política do candidato, afinal, lamentavelmente, o único político que, agora, reagiu contra as subvenções aos políticos “profissionais”. Da última candidatura resultou um movimento em que participei com interesse, a Convergência e Alternativa (C&A), que acabou por se auto-extinguir, ao que sei por a Renovação Comunista, seu forte componente, não se querer confundir com qualquer posição de defesa da criação de um novo partido.
Por outro lado, quanto a “movimentos de rua”, praticamente defunto o 12 de Março e com os seus principais protagonistas absorvidos por partidos (se já não o eram), resta hoje, e bem, o “Que se Lixe a Troika”. Ao lado, com outro perfil, os movimentos mais “convencionais”, de estudo e debate, em que sobressaem o Congresso Democrático das Alternativas e a Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida.
Claro que falta aqui uma longa lista de associações de intervenção política (lembrando logo, simbolicamente, a Associação 25 de Abril) ou de defesa de interesses particulares, dos reformados, das mulheres, dos jovens, dos emigrantes, dos imigrantes (mesmo sem voto), das minorias sexuais, da defesa do ambiente, do desenvolvimento comunitário, etc
E? Com tanta sapiência, com tantas certezas vem-me perguntar a mim o que fazer?!
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