sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Colegio Militar

Não tenho comentado o caso do Colégio Militar (CM), primeiro o do processo por maus tratos entre alunos, mais recentemente a reação, a meu ver machista, contra a fusão com o colégio feminino de Odivelas. Bem me podem gabar a alta qualidade pedagógica do CM, o facto de disponibilizar esgrima e equitação, o de educar em valores de honra e patriotismo (que servem para tudo, aplicando-se a antigos alunos que se celebrizaram como próceres do militarismo colonialista do salazarismo). Paralelamente, ou por causa disto, testemunhei numa organização em que vivi que o CM manda para a vida uma elite que se protege, como maçonaria. A barretina na lapela é mais imediatamente eficaz do que os sinais maçónicos. E eu detesto maçonarias!

Ontem, no início do julgamento contra ex-graduados do CM, e segundo notícia do Público, um deles declarou que “os castigos corporais eram normais nesta instituição e pediu desculpa por ter dado uma chapada de luva castanha [nota, JVC – com luva castanha, acto simbólico por ser a luva do uniforme] a uma das vítimas que ficou 688 dias em convalescença por perfuração do tímpano. Certo tipo de castigos corporais e físicos eram normais no Colégio Militar. Se algum aluno cometia um erro, como não fazer a cama, chegar atrasado ou faltar ao respeito, tinha de ser castigado. Não havia nada escrito, mas era um código de conduta que foi passando de geração em geração que todos no colégio sabiam existir".

Que excelsa pedagogia é essa que assenta numa prática hipocritamente aceite de maus tratos corporais? Consentidos de geração em geração, até que agora pais de alunos maltratados tiveram a coragem de denunciar. Também, como no filme “Uma questão de honra”, foi preciso um corajoso advogado da Marinha (Tom Cruise como Lt. Kaffee) para quebrar a regra dos “red codes” dos Marines e mandar para a prisão o arrogante coronel Jessup (Jack Nicholson).

Estes jovens do CM não irão para a prisão e talvez não a mereçam, por serem produto daquela mentalidade e “ética”. Mas servem para que todos nos interroguemos sobre a existência de uma entidade tão anacrónica como o CM. Não me interessa que dê ou não lucro. Também não aceitaria que o Estado mantivesse uma casa de alterne, por muito lucro que desse.

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