1. O Finantial Times, habitualmente bem informado, noticia hoje que a Grécia se defronta com uma medida muito provável. A sua “troika” UE/BCE/FMI vai assumir o poder de cobrar os impostos e de proceder às privatizações. Estaremos defendidos de tal coisa? E têm os portugueses consciência de que a cobrança de impostos é porventura o maior sinal da soberania, depois de tempos medievais em que por vezes os reis contratavam isso com privados? Impostos e emissão de moeda, embora esta com a ressalva de aceitação de moedas estrangeiras valiosas, como a nossa do tempo do ouro brasileiro, e com ressalva oposta de agora não termos moeda soberana, só um euro que não é sinal de soberania de nenhum país federal, ao contrário do dólar.
2. Julguei que a alternativa com que nos defrontamos, a determinar, a meu ver, o essencial do sentido de voto no próximo domingo, era linearmente simples. Ou a aceitação da “ajuda externa” (ainda há quem não tenha vergonha de a chamar assim) ou a opção pela reestruturação da dívida (coisa tão assustadora para o sistema que a propaganda agora é cada vez mais identificar isto com “não pagamento”, pura e simplesmente). Não via nenhuma terceira via, até hoje. Segundo Louçã, é “recuperar o país e pagar as contas”. Alguém me explica o que ele quer dizer com isto? É que não sei!...
3. Jerónimo de Sousa parece que entendeu que não se pode defender a reestruturação sem, ao mesmo tempo, propor fontes de financiamento que garantam o pagamento da parte da dívida que, de qualquer modo, fica sempre, e até a curto/médio prazo, mesmo depois da anulação da dívida odiosa, do “haircut”, da baixa da taxa de juro, da dilação dos prazos. Sugere que procuremos esse financiamento no Brasil e nas economias ricas emergentes. Mas, espantosamente, também nos EUA. Concordo inteiramente, mas fico abismado. O PCP a defender o recurso a negócios com o diabo americano? O mundo é mesmo composto de mudança...
4. Como acontece com alguma frequência, uma bactéria normalmente inofensiva, nossa companheira a viver confortavelmente no nosso intestino grosso, a Escherichia coli, dá origem a uma variante patogénica, mesmo letal. Aconteceu agora na Alemanha, onde já morreram quase dezena e meia de pessoas. Origem indiscutível do bicho, para o governo alemão: pepinos importados de Espanha. Foi uma afirmação cientificamente infundada, já desmentida pelo próprio governo alemão, embora sem uma palavra de desculpa para a Espanha, muito menos a assunção de responsabilidades pelos enormes danos económicos causados. Será que isto não tem nada a ver com esta crónica política? Estarei a ser "antigermânico primário"? Ou tudo isto se integra num novo perigo europeu que vai desde o primarismo da sargenta ao populismo xenófobo do eleitor que não quer gastar um cêntimo a ajudar outros europeus (que os ajudaram em 1945 e em 1953, que lhes perdoaram o nazismo mais ou menos responsável de 90% deles, que permitiram a reunificação), passando pela mentalidade quadrada dos seus economistas oficiais? Esses alemães que hoje nos olham de lado porque são nossos credores, são exportadores competitivos, mas só porque amocharam com a chamada "desvalorização interna", a aceitação sem protesto da degradação real dos seus salários e benefícios sociais. Valha-nos, ao menos, que, ao contrário desta campanha eleitoral socrática, não nos bombardeiam com a desonestidade de se afirmarem defensores do estado social europeu, coisa já defunta e putrefacta.
4. Como acontece com alguma frequência, uma bactéria normalmente inofensiva, nossa companheira a viver confortavelmente no nosso intestino grosso, a Escherichia coli, dá origem a uma variante patogénica, mesmo letal. Aconteceu agora na Alemanha, onde já morreram quase dezena e meia de pessoas. Origem indiscutível do bicho, para o governo alemão: pepinos importados de Espanha. Foi uma afirmação cientificamente infundada, já desmentida pelo próprio governo alemão, embora sem uma palavra de desculpa para a Espanha, muito menos a assunção de responsabilidades pelos enormes danos económicos causados. Será que isto não tem nada a ver com esta crónica política? Estarei a ser "antigermânico primário"? Ou tudo isto se integra num novo perigo europeu que vai desde o primarismo da sargenta ao populismo xenófobo do eleitor que não quer gastar um cêntimo a ajudar outros europeus (que os ajudaram em 1945 e em 1953, que lhes perdoaram o nazismo mais ou menos responsável de 90% deles, que permitiram a reunificação), passando pela mentalidade quadrada dos seus economistas oficiais? Esses alemães que hoje nos olham de lado porque são nossos credores, são exportadores competitivos, mas só porque amocharam com a chamada "desvalorização interna", a aceitação sem protesto da degradação real dos seus salários e benefícios sociais. Valha-nos, ao menos, que, ao contrário desta campanha eleitoral socrática, não nos bombardeiam com a desonestidade de se afirmarem defensores do estado social europeu, coisa já defunta e putrefacta.