sexta-feira, 13 de maio de 2011

Jogos de palavras (II)

Vou continuar a entrada anterior, agora em notas soltas.
1. Disse que a argumentação do tal comentador foi logo seguida por ouvintes. Não quero fazer processos de intenção, mas achei estranho, duvidando da argúcia de quem em casa tão facilmente se apercebeu daquela minúcia terminológica. Será que vai aparecer cada vez mais na propaganda eleitoral da máquina socrática e que foi hoje ensaiada por ouvintes que sabemos serem agentes nesse tipo de programas? Será que, quando Sócrates tiver de renegociar, obrigado pelos factos, pelos receios de "default" por parte dos credores ou até pelos seus parceiros/chefes europeus, vai dizer que não está a reestruturar, está é a renegociar? Habilidades destas da sua parte bem as conhecemos. A única coisa que me impede de aderir a esta tese é custar-me muito pensar que o tal comentador tenha feito este frete.
2. Mas também porque é que, a partir de certo ponto do debate e hoje todo o dia, na apresentação do programa do BE, Louçã só usa o termo renegociar? Já vimos que são totalmente equivalentes. Mas porquê começar a usar agora este termo, que, tendo eu “googlado”, não encontrei na discussão política e económica em Portugal e em português, até hoje? Também o BE com habilidades de esconder o gato com o rabo de fora, tapando-o com palavras? Ou por pensar que é melhor compreendido pelo homem comum? Veja-se abaixo o ponto 4.
3. Até porque estas coisas acabam por falhar. Por coincidência, ouço agora no noticiário dizer-se “o resgate”. Parece que já não pega “a ajuda externa”.
4. Ou está a tentar insinuar-se na cabeça das pessoas menos informadas que os dois termos apontam para as duas modalidades ou visões da reestruturação, “conduzida pelos devedores” e “conduzida pelos credores”? Não me custa nada a crer que seja esta a ideia ainda reservada do gabinete de manipulação socrático, mas então o BE corre riscos em insistir, como hoje, na designação de “renegociação”.
5. Será tudo isto bizantinice minha, preocupação formalista com palavras? Lembrem-se, a política sempre foi feita com palavras!
6. Coisa à margem, mas notável. Louçã apontou para uma coisa bizarra. Não fosse o esforço de um blogue, ainda hoje só quem sabe inglês é que podia conhecer o MoU (para usar a sigla inglesa!) mais conhecido como acordo com a troika. É vergonhoso, indigno, mas também revelador do desprezo pelos cidadãos, que o governo não tivesse feito uma versão oficial em português - aliás, contra todas as normas das relações diplomáticas. Mas também isto leva a dar algum desconto a Sócrates. Coitado, as suas contradições devem-se apenas à incapacidade de ler o memorando com a sua habilitação de inglês técnico da defunta Independente.

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