segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sobre memos (continuando a continuação)

Eu não devo estar bem. Só me vem à cabeça a mãe do recruta que no juramento de bandeira gabava que o filho era o único a marchar com o passo certo. Por acaso triste, ouvi agora Marcelo Rebelo de Sousa, naquele seu espetáculo que nunca me motiva a ligar a televisão. Não é que o homem foi capaz de, sobre a embrulhada de cartas, memos e MoU lançada à confusão no debate Louçã-Sócrates, vir hoje afirmar que o que Louçã mostrou no debate, e em que baseou o que afirmou como estando na carta para o FMI afinal era o documento assinado pelo governo e pela "troika" (isto é, o MoU)? Afinal, ainda eu não sabia, o memo assinado com o FMI ou dirigido ao FMI, segundo Louçã, é assinado segundo MRS é com toda a "troika", não se sabendo se, para MRS, há ou não o outro bem conhecido MoU entre o governo e a "troika". Desculpem lá, isto faz parecer que não estou a atinar a escrever decentemente, mas a culpa não é minha. Isto é Portugal ou Rilhafoles?

É óbvio que MRS não leu o mais importante documento político dos tempos atuais (importante para nosso mal), o MoU com a "troika". Senão, nunca o poderia estar a confundir com a "carta para o FMI" (segundo Louçã), afinal memo informativo. Não o leu mas fala como se o tivesse lido e influencia levianamente e sem seriedade dezenas ou centenas de milhares de pessoas.

E, na sua infantilidade lúdica de comportamento televisivo que lhe dá imagem de marca de brincalhão espertinho, esta leviandade não o impediu de, sobre esses "factos", discorrer longamente sobre as qualidades e defeitos manifestados pelos contendores sobre este assunto, examinando cada um com aquela brincadeira de professor-examinador de quem eu não queria ser aluno.

Porque me preocupar com isto? Porque a comunicação social é poder, é o quarto poder. Porque esse senhor é o mais influente opinador político e é bebido acriticamente por milhares de pessoas que, "emprenhadas" pelos ouvidos, vão votar como eu daqui a umas semanas. Porque em democracia é assim, vale tanto o meu voto como o de um ouvinte acrítico de MRS; mas então a democracia tem de impedir, não digo que a propaganda e até a manipulação "leal" (passe a contradição), mas sim a leviandade, a desinformação, a "autoridade" de gente como MRS. E mais os economistas de serviço, e mais os jornalistas incompetentes e incultos e mais quem dá palavra ao novo Padre Malagrida ("olha que o homem até diz umas verdades", escreveu-me uma pessoa com responsabilidade).

O que é afinal hoje a democracia? É tabu discutir isto? É tabu fascizante duvidar de que a democracia como até hoje vigora corresponda ainda, nas atuais condições de dialética em exponencial de informação/desinformação, intoxicação intectual na net, manipulação, "marketing" político, afinal alienação (ah, velho renano!), corresponda - dizia - ao princípio essencial da verdadeira, real, consciente, livre, vontade do povo? Não será necessário reinventar a democracia? Antes que ela definhe na "tristeza da democracia", que se está a viver? E, a curto prazo, se berlusconhize?

Nota 1 - Com exceção óbvia da sua epistemiologia, não vou nada por Karl Popper, mas aconselho um seu livrinho, em colaboração, "Televisão: um perigo para a democracia", com edição portuguesa da Gradiva, ISBN 972-662-407-X.

Nota 2 - Ao menos hoje tenho tranquilo o "espírito da colmeia", de família de esquerda, estou a criticar MRS e não o Louçã ;-)

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