domingo, 23 de janeiro de 2011

Homossexuais, direitos e abusos

Não há muitos países que, como Portugal, aceitem o casamento homossexual. Será isto sinal de tolerância, avanço cultural, ausência de homofobia? Engano. O Eurobarómetro diz que 68% dos portugueses são homofóbicos. Em entrevista recente ao Público, Miguel Vale Almeida diz que “é assustador, sem dúvida. Nós sempre falámos que assim que tivermos o casamento e assim que as questões LGBT estiverem integradas na agenda política e mediática e passar a ser normal falar-se do assunto, como já é, a homofobia declarada vai crescer.”
Vem isto a propósito do caso Carlos Castro. Meia dúzia de amigos chegados fizeram-lhe o elogio fúnebre, depois o homem foi esquecido. Em contrapartida, há todo um movimento de apoio, compreensão, desculpabilização em redor do seu assassino confesso. É interessante que este movimento tenha um ponto central comum: o Renato não era homossexual. Não tem pecado. Ele “passou-se” porque deve ter sido muito provocado. Muito provocado, entenda-se, é ter sido assediado para ir para a cama com um velho homossexual conhecido e com todo um ar de lúbrico. Talvez - estou meramente a conjeturar - assédio para variante de "passivo", depois de eventuais experiências de "ativo" que, para jovens da minha geração (e mais tarde?), não eram consideradas como homossexualidade, antes como exploração "máscula" de p... Lá voltaremos.
Começo por Carlos Castro. Não era personagem notável, a título nenhum. Croniqueiro de fofocas, promotor de um jet set ridículo, à portuguesa, escriba tosco. Homossexual, contra o que nada tenho, mas efeminado daqueles sempre à beira de ataque de nervos, de chilique, de raivinhas e fofoquices, sensibilidades extremadamente desviantes, enfim mariquices que confesso que, esteticamente, não consigo que me agradem. Mas foi a vítima, e em condições, tudo indica, em que o seu comportamento foi mais do que aberto e claro.
O jovem assassino é outra coisa, produto infeliz de uma alienação que faz prosperar cadeias televisivas, gente da moda, aprendizas de Big Brothers, gente rasca que é inculta e exploradora da triste ambição de sucesso fácil que a máquina de deformação mental e moral anda a trabalhar. À viva força, mesmo depois de muitos falhanços, quer ser modelo, porque o mundo da moda lhe é apresentado como muito mais glamoroso do que o da cultura, por exemplo, ou o de qualquer trabalho que ele provavelmente despreza como rotineiro. Gente da cultura aparece no JL, no Ypsilon ou na Actual, coisas que ninguém lê; gente da moda aparece nas capas de tudo o que é revista lida por milhares de madamas no cabeleireiro.
Para isto, vale tudo. Ou o rapaz é um atrasado mental (e também a sua mãe, que confessa ter sido complacente com toda a história, porque sempre teve “mentalidade aberta”) ou foi um oportunista a explorar a vulnerabilidade de um patético velho homossexual, confessadamente carente de afetos, lá para esse lado, e que se apaixonou pelo efebo, variante do outro lado do espelho do caso Lolita. Ou da Morte em Veneza, magistralmente contada por um Visconti que conhecia bem essas situações.
O rapaz envia mensagens explicitamente de namoro homossexual, manda beijos ao coitado. Aceita prendas. Vai repetidamente para hoteis partilhando o quarto. De repente, descobre que não é homossexual, a sua redescoberta virilidade dá para a extrema violência. E há psicólogos de serviço que já só falam na quase certeza de uma crise psicótica, de uma irresistível revolta do eu, que torna inimputável o rapaz da fotografia em cuecas na praia, máximo da realização pessoal. E já há uma petição na net para a sua extradição. Aposto que vai ter milhares de assinaturas. Não sei para que lhe serve, porque, no estranho código das prisões, vai ser o “bonitinho de serviço” tanto nos EUA como em Portugal.
Dito isto, confesso que tenho alguma pena do rapaz, apenas por me parecer que ele é um produto imbecil, provinciano, com desconstrução familiar, de toda uma máquina poderosa que está a fazer, desde há anos, a geração dos “Morangos com açúcar”. A TVI, José Eduardo Moniz e a sua dama, Teresa Guilherme e outros que tais, são inimigos públicos.
Mas também esta nota me leva, marginalmente, a alguns apontamentos soltos sobre a homossexualidade. Brevemente, a começar, a rejeição da atitude gay frequente de que a comunidade gay representa o melhor dos mundos, nem sequer um mundo equivalente ao meu mundo “straight”. Afirmam, orgulham-se, mas não o querem discutir, acolhendo-se ao direito à diferença. Têm direito absoluto à sua diferença, mas têm de aceitar que, em muitos aspetos, essa diferença vai para lá da simples vida sexual privada, passa para o domínio do público e pode portanto ser criticada, como no caso da afirmação pública, mesmo que subliminar, dessa pretensa superioridade.
Posso criticar os muitos escritos em que os gays, principalmente no meio artístico, quase que relacionam inequivocamente essa característica psicológica-sexual e a sua qualidade artística, a sua “sensibilidade”. 

Também detesto a ideia do “gay pride”. Parece que me estão a atirar à cara a tal suposta e longe de demonstrada superioridade. Passa-me pela cabeça alinhar em festas e cortejos de “straight pride”? Uma coisa é ser diferente, ter direito a essa diferença. Outra é fazer disso motivo de orgulho, afinal minoritário. Orgulho tem sempre um referencial, não é sentimento absoluto, é sempre coisa em relação a outro, no limite contra outro. Contra que coisa é o "gay pride"? Como diz a conhecida anedota, “agora há o direito de se ser gay, um dia destes o politicamente correto é obrigarem-me a ser gay”. Admito que estou a provocar protestos, “homofóbico!”, mas paciência, já tenho idade para não ter de contribuir para todos os peditórios, que a reforma é curta.
Muito pior ainda, é a proteção mútua de uma minoria excluída e reprimida, sem dúvida, ter resultado em coisa para mim execrável, mas indiscutivelmente notória: a constituição de um lóbi, de uma associação de socorros mútuos. Não tolero lóbis, não tolero os "jobs fot the boys" partidários, não tolero a maçonaria, não tolero o Opus Dei, também não tolero o lóbi gay. E ele é fortíssimo, vejo-o no meu dia-a-dia. Diga-se que, ao que me parece, principalmente o lóbi gay masculino. Porque não o feminino é coisa que o meu desconhecimento do meio não me permite compreensão, mas que me deixa curioso.

Para terminar, correndo o risco de me considerarem vaidoso, não será verdade que reina por aí algum medo de escrever o que estou escrevendo?

P. S. (13:44) - caiu que nem sopa no mel, em relação a este "post", a leitura diária da imprensa online, com este artigo do Público: "Um guia para o star-system português".

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