segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Os partidos ucranianos

Numa situação tão propícia a análises ligeiras ou a informações enviesadas, como esta crise na Ucrânia, convém ir-se um pouco mais fundo. Por exemplo, tentando saber alguma coisa sobre os actores da peça. Não é fácil, à distância e com poucas fontes, mas pode-se recorrer, por exemplo, à Wikipedia. Não franzam o nariz, que não é fonte de que se deva desconfiar por princípio, muito pelo contrário.

Nas eleições de 2012, os principais partidos foram o Partido das Regiões (30%) do agora deposto presidente Yukanovitch, o Partido da Pátria (25,6%) da antiga primeira ministra Yulia Timochenko, a UDAR (14%) do ex-pugilista e benquisto de Angela Merkel Vitaly Klychko, o partido Liberdade (Svoboda) (10,4%) de Tyahnybok – o que tanto veste fato e gravata como camuflado com Kalachnikov. Fora do sistema, o Partido Comunista, com 5,4%, dirigido por P. Symonenko, agora em risco de ilegalizarão, depois de já ter visto a sua sede vandalizada.

É interessante – e preocupante – observar a diferença em relação às eleições anteriores, em 2008. Então, a UDAR não concorreu e, junto com a subida de 9,6% do Liberdade entre 2008 e 2012, este novo bloco rouba quase 24% aos partidos anteriores, o da Pátria e o das Regiões, que polarizavam a política ucraniana.

Não me parece clara a relação entre os partidos e os grupos violentos de milícias fascistas. Creio que nada indica que os fascistas tenham alguma coisa a ver com os partidos das Regiões, da Pátria e a UDAR. Por outro lado, há vários grupos fascistas que não têm ligação a partidos e que os acusam de moleza. Sem margem para dúvidas parece ser o caso do Liberdade, que actua tanto no parlamento, com a face civilizada, como na rua, com a face mascarada do fascismo.

Se formos aos programas, a situação é bastante estranha para nós. Enquanto que estamos habituados a diferentes gradações da política económica e social, lá parece ser principalmente uma questão de gradação do nacionalismo. A mais, o Pátria foca o pró-europeismo de cor ordoliberal e o Partido das Regiões alguma influência social-democrática, mas discreta. O Liberdade é retintamente fascista, anti-semita, xenófobo, anti-russo.

Mais interessante é o programa da UDAR, aparentemente o partido favorito da União Europeia, que resumo:
  • Preocupação principal com assuntos “populares”, como emprego para os cidadãos ucranianos à frente dos estrangeiros, luta contra a corrupção, contra a pobreza, contra o excessivo domínio do Estado.
  • A favor da associação à União Europeia e da entrada na NATO.
  • Sistema educativo de padrão europeu, com autonomia institucional e sistema de Bolonha.
  • Criação de uma agência independente anti-corrupção.
  • Diminuição do número de organismos públicos.
  • Exclusivo da propriedade de terras agrícolas para os ucranianos.
  • Abolição das regalias dos políticos.
  • Instituição de um sistema eleitoral de listas abertas e de referendos e iniciativas populares.
É uma mistura incongruente de tópicos, que entre nós cabem, uns num programa partidário, outros noutro. Só não é incongruente porque definida por alguma coisa que ainda não conhecemos, a nível partidário;: o populismo. Mas não estamos a receber diariamente mensagens com posições deste género?

À custa dos partidos iniciais, que de certa forma significavam uma bipolaridade tradicional, a segunda geração, UDAR e Liberdade, representam populismo e nacionalismo extremo. Nacionalismo e populismo foram o meio de cultura dos fascismos.

2 comentários:

  1. Nas últimas eleições legislativas, de 2012, o Partido Comunista da Ucrânia ficou em quarto lugar, com 13,18% dos votos (e não 5,4%), tendo subido 7,79 pontos percentuais em relação às eleições de 2007 (e não 2008).

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  2. Obrigado. Foi lapso meu ao ler os resultados em comparação.

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