Há quem, muito legitimamente, se entusiasme com os êxitos do mundo científico português, numa época em que pouca coisa positiva nos pode envaidecer em contraste com a vergonha da “triste, apagada e vilm tristeza” a que nos estão a remeter. Infelizmente, não é bem assim.
Hoje, no i, vem mais uma notícia de descoberta científica portuguesa. Pode ser verdade, pode não ser. Isto porque, ao contrário da política, dos negócios ou do jornalismo, a ciência tem uma credibilidade ímpar que lhe vem, em grande parte, do facto de só ser deontológico divulgar resultados após a sua publicação em revistas consagradas, com escrutínio dos artigos por cientistas independentes.
Não é o que se passa com esse caso (e muitos outros, todos os dias). Divulgar grandes descobertas por via de conferências de imprensa, comunicados e declarações à imprensa é cada vez mais frequente (alimenta a pressão pública para o financiamento e a construção de boas carreiras) mas não é deontológico e, muitas vezes, nem é verdadeiro como informação.
Pode-se chegar mesmo ao ponto, como já li, de anunciar com parangonas não os resultados mas sim a intenção de desenvolver um projecto de investigação ainda nem iniciado. Ou elaborações sobre aplicações práticas que são banalidades ocas ou que só existem na fantasia (só?) de quem as diz. Enormes potencialidades de aplicação ao bem-estar humano, à saúde, de coisas de que ainda nem se faz ideia de para que servem? Em investigação, o melhor é dizer que servem para avançar o conhecimento. É tudo e é muito bom.
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