quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dúvidas de ignorante

Já aqui tenho dito que, hoje, um dos principais papéis dos economistas de esquerda, mais do que simplesmente se manifestarem como cidadãos com posição privilegiada, é fornecerem aos seus companheiros de luta, leigos, a informação técnica necessária para fundamentar uma opinião política. Peço-lhes hoje um trabalho destes.

No blogue de Yanis Varoufakis vem uma longa entrevista de James Galbraith (JG), agora novo co-autor da “proposta modesta”, sobre a Europa, a Grécia (e o Syriza), a Alemanha e a América

Logo ao início, JG considera um erro, contra a verdadeira ideia de Keynes (?), que se contraponha ao austeritarismo o estímulo económico e a pretensão de voltar à inicial – considerada como normal – tendência de evolução do “output” potencial. A seguir, enreda-se, a meu ver de leigo, na discussão de constrições que impedem a luta pelo emprego, ao mesmo tempo que propõe alternativas de duvidoso realismo (novas formas de trabalho de serviços avançados, aumento de actividades não lucrativas, desfinancialização dos mercados de energia e de “commodities”, limitação dos efeitos da tecnologia na procura de trabalho, etc.), e enquanto considera ligeiramente a inevitabilidade de desemprego no sector manufactureiro.

A sua defesa de uma “terceira via” (instintivamente, detesto esta expressão!) parece-me mais uma versão do sonho com a fada europeista, em que, afinal, se baseia a “proposta modesta”. Parece-me reflectir, ao que sei, o posicionamento trotsquista e pró-Syriza de Varoufakis e, provavelmente, dos seus amigos e co-autores, como, aliás, expressamente manifestado nessa entrevista, com elogio à posição pró-europeia do Syriza e uma entusiasta admiração pessoal pelo seu líder, Alexis Tsipras.

Segundo JG, o estímulo não é alternativa imediata à austeridade. “A primeira necessidade é estabilizar o doente, que está à beira do colapso. Isto não significa estimular, não é regressar ao crescimento, ou regressar ao pleno emprego; é impedir um desastre que conduzirá à destruição da zona euro e à dissolução da União Europeia”

Pergunto eu, ignorante: porque é que, para JG, mais importante do que resolver a crise dos periféricos é manter a todo o preço a integridade da zona euro? E é correcto afirmar que uma política de estímulos a curto/médio prazo é pseudo-keynesiana?

(Imagem – um "cartoon" sobre  "A Modest Proposal" de Jonathan Swift)

1 comentário:

  1. Com todo o respeito, não acompanho a sua proposição de que compete aos economistas fornecer aos seus "companheiros de luta" leigos "a informação técnica necessária para fundamentar uma opinião política", pelo menos em toda a sua potencial extensão. Isto se a entendi bem.
    Tal como está formulada, a proposição parecerá simétrica da que aparentemente inspira a tecnocracia dominante. Sem dúvida que a informação sobre os instrumentos e as leis da economia é tão essencial quanto o conhecimento dos factos em que se analisa o universo a que ela se destina. Sem dívida que a competência na análise e o rigor na execução são instrumentos indispensáveis da política (e não, como se usa dizer, "políticas", fragmentação mistificadora) proposta aos cidadãos, nos seus objectivos e executoriedade, com a credibilidade que há-de ser a sua nota distintiva.
    Mas, insisto, a "economia dos economistas" deverá estar subordinada estritamente à política. Por mim, creio que há uma paleta infinda de feiticeiros e aprendizes de feiticeiro à disposição, prontos para secundar outros nas nossas tristes tradições de colocar a faca e o queijo nas mãos dos que não podem ter mais do que informar das alternativas e suas consequências.
    Veja-se o debate sobre o euro e o futuro da União: quantas as opiniões sobre tal matéria, todas tão "fundamentadas" quanto divididas.
    A parte relativa ao "creio que" pertence a todos e aos que os representem legitimamente.
    Não aos feiticeiros do "regime", muitos deles estranhamente ligados numa vasta e iniciática família.

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