Escrevi ontem na minha página do Facebook:
“A política em Portugal está num manicómio? Passos Coelho (provavelmente com espírito santo de orelha de Gaspar e anuência da troika) não hesita em correr o risco de nomear Maria Luís Albuquerque, afundada até ao pescoço, pelo menos na opinião pública, no caso das swaps, directamente da sua responsabilidade pessoal no caso da REFER.Passos Coelho está assim tão toldado pela sua fé cega e fanática no monetarismo-neoliberalismo-austeritarismo-feudogermanismo-etc?”
É claro que a interrogativa a enfeitar a última afirmação era figura de estilo, porque não me parece haver dúvida de que Passos Coelho está mesmo preso. Confesso é que não me passava pela cabeça o desenvolvimento do caso, com a demissão de Portas. Passos Coelho está preso da sua fé fanática, de quem não a sabe criticar, mas também, antes, preso pela sua impreparação, inexperiência de vida, vulgaridade (se calhar é favor) mental e cultural. Como coelho, o vivaço Bugsbunny era muito mais esperto.
A saída de Gaspar, com confissão na carta de despedida de que havia divisões no governo, identificáveis com Portas, podia ser útil a este, num cenário pré-eleitoral em que o CDS começasse por se distanciar. Foi mais longe e provocou o que me parece certo, a quebra da coligação e eleições antecipadas. Talvez lhe cheire a um namoro ao PS, a ficar mais difícil com o arrastar da coligação. Este momento aparentemente anti-Gaspar torna o DCS mais "respeitável", julgam eles. A nomeação de Maria Luís Albuquerque veio mesmo a calhar para comparar o tonto do primeiro ministro com o traquejado político Portas.
No entanto, talvez as coisas não sejam assim tão transparentes. Desde logo, alguém mente, como se tem mentido nestes últimos dias sobre as "swaps" (o governo foi ou não informado por Teixeira dos Santos?). Portas diz preto no branco que discorda da nomeação da nova ministra e que Passos Coelho não soube ir além da mera continuidade. Passos Coelho emitiu um comunicado a desmentir, dizendo até que Portas tinha ontem sugerido nomes para secretários de estado da nova ministra. Passos Coelho é tonto mas, em matéria de psicopatia do deleite com a mentira, Portas é caso bem conhecido de há muito. De qualquer forma, não ponho as mãos no fogo por nenhum deles.
Patética é também a posição dessa triste figura que é o presidente (não o faço, mas agora, por decisão da PGR, já se pode apodá-lo de palhaço). Ainda hoje, já conhecedor do caso Portas, voltou a distanciar-se da crise política, apoiando indirectamente o governo em farrapos ao afirmar que só o parlamento é que deve resolver a situação. Então é isto tudo o que um presidente, que nomeou o governo, tem a dizer quando se demitem os dois ministros de estado?
Também não deixa de ser caricato que, nesta situação, tome posse a ministra. No entanto, é preciso atender-se a que a formação de um novo governo após eleições demora algum tempo e a situação financeira exige um mínimo de direcção, mesmo que de gestão corrente.
Em resumo: primeiro, ou muito me engano ou vamos para eleições; segundo, a meu ver nada disto estaria a passar-se sem tudo o que foi a força na rua, nomeadamente a vitória dos professores sobre Crato, o que fragilizou Gaspar de forma irremediável perante os seus patrões da troika.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário. Os comentários de leitores não identificáveis não serão publicados.