domingo, 17 de abril de 2011

Uma questão de saúde pública

Não vou sujar este espaço escrevendo sobre Fernando Nobre. Nada nele, desde há meses, mais desde há dias, muito mais desde há uma hora (entrevista na RTP) me faz apetecer escrever sobre tal desviante da mínima normalidade ética. É um caso médico-psicológico individual de interesse, mas não se fica pelo individual, academicamente interessante. É uma questão de saúde pública

Este país é pequeno, “soturno, melancólico, a despertar desejo absurdo de sofrer”; este pequeno país a fazer sentir um ocidental, país pequeno que nem um bairro, “um bairro onde miam gatas / e o peixe podre gera os focos de infecção!
Saneamento básico desta enorme cloaca máxima que é esta gente indigna, precisa-se urgentemente. Eu, que sempre achei Guerra Junqueiro bastante ridículo, ou pelo menos definitivamente datado, começo a gostar de reler a Pátria.
“Demitam todos os políticos, já!”. Disparate perigoso, a alimentar todos os fascismos, ou, se não quiserem ir tão longe, todos os populismos objetivamente antidemocráticos. Tenho medo disto que ouço por todo o lado, mas não posso enfiar a cabeça na areia. O grito ouve-se. E, se acredito bem no papel revolucionário - isto é, de avanço da história - do povo na rua, se acho que ele não acabou em Paris de 1870, mesmo falhando depois em 1968 em Paris e em Praga, também sei que o povo na rua vai sabe-se lá para onde. 
Há dias, escrevia-me um amigo uma coisa lapidarmente simples: “a principal diferença, nesta Europa de hoje, nem é a ideologia maioritária de direita, nem a hegemonia da visão económica neoliberal. É principalmente que a geração dos grandes políticos de há vinte anos, concorde-se ou não com as suas posições, deu lugar a uma geração de arrivistas incultos. Vê só a diferença entre Delors e Barroso”.
E, com isto, vem-me à cabeça outra coisa importante. É que atrás desta gente até houve, por vezes, pessoas de qualidade que se deixaram encantar pela “eficácia” dos jotinhas malandros para lhes porem em prática as ideias. Sempre houve esta veleidade de pensadores respeitáveis. Por exemplo, não concordo muito com Anthony Giddens, mas reconheço-lhe qualidade e gosto pelo desafio de novas ideias, li com prazer crítico "A Terceira Via", anotei-o à margem, coisa que só faço parcimoniosamente. Imperdoável é que tenha sido o sustentáculo do maior e primeiro exemplo, detestável, desta nova geração de políticos Armani e telepontísticos, “ó Luís, como é que fico melhor?”. Quem? Claro que Tony Blair.
E há algum Giddens atrás de Sócrates? Se calhar, até era bom que houvesse. Mas o PS secado por Sócrates nem sequer um pensador permite. O mais académico dos socráticos, Santos Silva, degrada a imagem do professor, virando trauliteiro, José Agostinho de Macedo reincarnado (não sei é se igualmente anti-maçon...). Mais, nestes tempos de blogosfera, nem sequer um blogue PS que se leia sem desgosto.

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