quarta-feira, 6 de abril de 2011

Para onde vamos?

Vamos mesmo pedir a “ajuda” externa (não é ajuda, é preferível chamar resgate, "bailout"), e já. Depois das declarações de hoje (no Público) de Teixeira dos Santos, reforçadas por um comunicado do Ministério das Finanças, não há dúvidas.
“O país foi irresponsavelmente empurrado para uma situação muito difícil nos mercados financeiros. Perante esta difícil situação, que podia ter sido evitada, entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à actual situação política. Tal exigirá, também, o envolvimento e o comprometimento das principais forças e instituições políticas nacionais.”
Vamos ser massacrados com isto durante os próximos dois meses. Os grandes propagandistas políticos do século XX eram aprendizes face a estas eficazes máquinas de “imagem” que fizeram grandes políticos (?) de rapazinhos medíocres política, cultural e moralmente, mas com enorme esperteza ao serviço do seu carreirismo e de um egoismo desenfreado. 
E nem sequer são só declarações assim elementares, como esta do ministro. Foi toda uma encenação muito bem feita, passando por uma delirante “ajuda intermédia”, que deve ter deixado estarrecidos os euroburocratas com pouco sentido de humor, e pela comédia de enganos desempenhada pelos banqueiros.
A maior habilidade neste truque político é o jogo da dúvida impossível de esclarecer. Como em tantas coisas na vida em que não sde pode voltar atrás para se ver o que teria sido o resultado se não tivesse acontecido o que aconteceu, porque “regresso ao futuro” só no cinema. “Vamos para a ajuda por causa do chumbo do PEC 4 e da crise política”. Mas alguém consegue saber de certeza se não iríamos irremediavelmente para a ajuda mesmo sem a crise política? É certo que a crise afeta a credibilidade política internacional do governo, enerva mais os mercados, irrita a prussiana. Mas que peso têm estes fatores? Alguém sabe?
Com tudo isto, e não sendo adepto de teorias da conspiração, estou convencido de que o governo sabia de certeza certa, por Bruxelas, Frankfurt e Berlim, que a “ajuda externa” estava à porta. Não podia fugir, diretamente, da consequência daquilo em que se tinha empenhado, de nunca ser responsável pela entrada do FMI. Também não tinha tempo para passar rapidamente a responsabilidade para um novo governo PSD ou PSD/CDS, mesmo que custando isto uma saída temporária do poder.
Só lhe restava esta fuga indireta. Vai ficar responsável pela vinda do FEEF/FMI mas “só ficticiamente”, por dever de governo responsável, dever patriótico de pensar superiormente neste pobre país quando a oposição é tão irresponsável que precipita essa tal ajuda externa - quando era garantido que ela não era necessária se o PEC 4 não tivesse sido chumbado (?).
Se foi assim, a jogada de Sócrates foi de mestre e Passos engoliu isca e anzol até ao carreto. Diga-se que não vejo como pudesse ter escapado à rasteira. E sabem o que prevejo? Que o PS, massacrando com esta propaganda desonesta e demagógica, aproveitando dúvidas de muita gente sobre a incerteza acerca do outro jota, tão postiço como Sócrates, venha a ficar novamente em primeiro lugar nas próximas eleições. Não excluo.
Como, apesar disto, a hipótese de maioria absoluta me parece fantasista, essa vitória de PS/Sócrates abre um enorme buraco de atrações abismais impensáveis. Impossibilidade de formar governo, com situação de arrastamento até ser novamente possível convocar novas eleições? Governo de “salvação nacional”, certamente só possível sob o patrocínio de um PR quase convertido com isso a candidato a Sidónio? Pronunciamento dos poderes fácticos, à margem da democracia? Colapso, à italiana, do sistema político-partidário, com emergência de populismos que andam aí à espreita?
Claro que há uma saída, a renúncia de Sócrates, por reconhecer que ele é o problema. Mas Sócrates não é Zapatero e o PS está castrado. Com isto, fechando o círculo desta conversa, como é que um homem que não tem o mínimo de grandeza e de sentido de responsabilidade para perceber que devia sair, poderia pôr a responsabilidade e o sentido de dever (à verdade, desde logo) a condicionar esta sua apresentação como alguém que não tem qualquer culpa da atual crise, de que é pobre vítima?
Nota - Sócrates vai falar já depois de eu publicar esta nota. Não é difícil adivinhar que é para anunciar a ajuda, anúncio preparado por Teixeira dos Santos, como naqueles telegramas que se recebia “avô muito mal” sabendo-se que uma hora depois vinha “avô morreu”.

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