quinta-feira, 7 de abril de 2011

Até quando, Catilina?

"Sócrates revelou hoje que não está disponível para governar o país com a ajuda do Fundo Monetário Internacional". Sol, 19.3.2011.
"Eu não estou disponível, da minha parte, para governar com o FMI", DN, 19.3.2011.
"Primeiro-ministro reafirmou hoje que Portugal não precisa de ajuda externa e assegurou "não estar disponível" para governar o país com a ajuda do Fundo Monetário Internacional". Expresso, 19.3.2011.
"Sócrates, revelou hoje que não está disponível para governar o país com a ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e reafirmou que Portugal não precisa de ajuda externa". Público, 19.3.2011.
Etc.
Isto foi há duas semanas e meia. Não é aquele tempo longo em que a memória falha e permite as cambalhotas sem vergonha. E agora, Sócrates?

Claro que não o interrogo sobre aquilo que é o seu dever elementar, mesmo como governo em gestão, estar disponível para lutar ao máximo pela melhor concretização possível da "ajuda" externa. Mas depois, em relação às eleições que resultarão num governo que vai ter de lidar com o FMI?

Repare-se que essas declarações taxativas não se referem a culpas, a condicionalismos, a fatores de processo histórico mesmo que pequeninamente a curto prazo. Não são propaganda eleitoral, esgrima politiqueira, chicana partido-rasteirinha. São, pura e simplesmente, ou deviam ser, para quem ainda sabe o que é palavra, uma declaração de intenções. Não podem deixar de serem tomadas à letra, se ainda se acredita na honra.

Deixou então Sócrates de estar indisponível para governar com ajuda externa, como dizia há menos de três semanas, e encara ser primeiro ministro da próxima legislatura? Vai concorrer a primeiro-ministro, à cabeça do PS, agora que o ganhou novamente com votação terceiromundista? Se ganhar, vai renegar o que disse tão enfaticamente há menos de três semanas? Ou se mostra definitivamente como aldrabão que toda a gente acha que é, salvo os patéticos militantes do PS reduzidos a lixo e ofendidos na sua muito frequente dignidade? Ou, para surpresa geral, vai mostrar que Zapatero não é exclusivo espanhol?
Quousque tandem abutere patientia nostra? (googlem...)

P. S. - Ou será que ainda vamos ser insultados com a aldrabice máxima (até com ajuda, talvez involuntária, do PR, como se viu pelo seu "recado" recente aos jornalistas)? A aldrabice de que há semanas JS falava era da sua indisponibilidade para governar com ajuda do FMI, mas afinal vai ser com ajuda da União Europeia e do FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira). Mas não sabe toda a gente, desde logo gregos e irlandeses, que o FEEF só ajuda de braço dado com o FMI?

P. S., 8.4.2011 - Quanto ao P. S. anterior, a notícia de hoje do Público não deixa dúvidas: "O comissário europeu dos Assuntos Económicos, Olli Rehn, disse hoje que tanto a Comissão Europeia como o FMI [itálico meu, JVC] já receberam o pedido formal de ajuda externa financeira de Portugal".

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