quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O que quer a Alemanha?

O Bundesbank, o Buba (banco central alemão) propôs que os países que entrarem em dificuldade financeira ou com risco de insolvência, antes de serem abrangidos por resgates europeus, devem começar por aplicar uma taxa interna sobre o património dos seus cidadãos (one-off tax). É a generalização da regra imposta a Chipre, de taxação dos depositantes dos bancos (“bail in”).

Referindo-se a isto, Yanis Varoufakis interroga-se se essa gente não é idiota e não ignoram o que seria somar uma corrida aos bancos à crise do euro. Não sendo idiotas, acha YV que a atitude do Buba, assim como a queixa do seu presidente ao tribunal constitucional alemão sobre a política de Draghi de “salvação do euro”, podem significar uma vontade assumida de reengenharia do espaço do euro, para sua circunscrição à Europa central e do norte, o que também significaria um enorme afluo a essa zona de capitais do sul em fuga dos seus bancos.

Mas também há outras formas de ver essa “idiotice”, aliás cumulativas. Por um lado, assim como Gaspar era tudo menos estúpido e académico ignorante, essa centena de econocratas sentados em Bruxelas/Francoforte/Berlim que hoje dominam a Europa têm um umbigo do tamanho do Terreiro do Paço e tudo fazem para não admitirem um erro, mesmo quando isso obrigue a desonestidades intelectuais e, pior, sacrifício das pessoas e das riquezas nacionais. Com a cumplicidade interessada dos gauleiters “nacionais”, estão prontos a gastarem rios de dinheiro para que os seus programas sejam um sucesso.

Por outro lado, estão a obedecer a uma agenda ideológica, que pode exigir alguma destruição dos alicerces da construção europeia, feita numa fase inicial da hegemonia do neoliberalismo. Pode custar dinheiro e abalar o sistema financeiro, mas será para essa gente o preço útil a pagar pela destruição definitiva do para eles odiado estado do bem-estar e da justiça social (mesmo que justiça ainda longe das aspirações populares). 

Neste sentido, a sua política de austeridade só falha em termos de racionalidade económica, não de cumprimento de um objectivo político bem definido e estrategicamente desenhado.

(Na foto, Jens Weidemann, ex-conselheiro de Merkel, "jovem génio" dos top econocratas e hoje presidente do Buba)

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