A misteriosa doença de José Eduardo dos Santos desperta curiosidade. Sabendo que tem estado internado na Clínica Planas de Barcelona, fui ver por aí, mas sem resultados, porque a clínica, fora algumas coisas extra, é principalmente de cirurgia plástica. Coisa eventualmente importante para as novas madamas angolanas frequentadoras das lojas da Av. Liberdade, mas creio que não para o setentão presidente.
Entretanto, desviei a minha atenção para outro tema, porque a dita clínica também tem um departamento de quiroprática. É a invasão da medicina pelos bárbaros do florescente negócio (psicologia dos doentes favorece!) das “medicinas” alternativas ou complementares. Até a OMS pactua com o lóbi!
Há anos atrás, fui contratado pela Lusófona como diretor de uma Faculdade de Ciências Biomédicas, com o encargo essencial de propor um curso de Medicina. Na altura, havia lá já um Departamento de Ciências da Saúde, essencialmente reduzido a um curso de farmácia e dirigido por um professor de perfil pouco claro, passeando entre Medicina e Farmácia da UL, sem grande progresso na carreira. Por razões obscuras, de que suspeito mas não tenho provas, coisa daquela universidade, tinha grande poder.
Um dia, soube por acaso que aquele departamento rival com o meu (e o termo é exato, dado o que se passava, até em relações internacionais e novos cursos) ia propor uma licenciatura em Osteopatia. Protestei junto do administrador, Prof. Manuel Damásio, contra essa fraude científica, mas a resposta foi a de que era um negócio promissor.
Há muita gente que aceita a osteopatia como manipulação local, fisioterapêutica, do sistema esquelético. Têm toda a razão. Havia um técnico do meu IGC que, onde punha as mãos, fazia milagres em coisas osteo-articulares. É a velha e muito respeito prática dos endireitas.
Mas a osteopatia do tal curso, que melhor se devia chamar osteoterapia, é coisa muito diferente. É uma ideia global da medicina, de um médico americano do séc. XIX, segundo a qual todos os sistemas orgânicos estão articulados e se relacionam uns com os outros. Assim, cada ponto do esqueleto reflete um órgão e a estimulação de cada ponto cura uma doença cardíaca, digestiva, urológica, ginecológica. Mais, cura doenças sistémicas, como a hipertensão, a diabetes, etc. E pagam-eew quatro anos de propinas para aprender isto, uma “ciência”, como descaradamente diz o sítio da net da tal licenciatura com que discordei.
Até aqui, é folclore de incultura e de irracionalismo. É o que temos. Mas será que se acredita e se aceita no quadro das formações profissionais reconhecidas como licenciaturas essas fraudes? Ingénuo, há muitos anos, nem me passava pela cabeça. Muito menos agora, em que me defrontei repetidamente com o “rigor” da A3ES, que me reprovou sucessivamente propostas de novos cursos de Medicina, com razões ofensivas da inteligência e da cultura médica.
Mas foi essa agência de acreditação que autorizou para cima de uma dezena de licenciaturas em osteopatia, uma fraude médica e científica, e um atentado à defesa do consumidor. Não tarda a homeopatia.
A A3ES é presidida desde a sua criação pelo ex.reitor da Universidade do Porto, Alberto Amaral. Começou com Sócrates, diz-se que se ofereceu a Passos Coelho para ser reconduzido, continuou com Costa. É coisa vulgar, no círculo dos reitores que findam os mandatos. Depois de anos de administração (muitas vezes porque não eram bons cientistas) já não têm competência científica e pedagógica para voltarem a ser muito bons professores. Vão para sinecuras à margem das universidades ou para fundações que eles próprios criam ou fomentam. E todos nós, ignorantes, a permitirmos isto.
Viva. Gostei muito do seu artigo, costumo dizer que se as ditas medicinas alternativas fossem cientificamente demonstradas há muito que teriam sido assimiladas pela medicina tradicional (normalmente argumentam com teorias mais ou menos conspirativas que não questiono, pois desconheço de todo o assunto).
ResponderEliminarRelativamente à osteopatia, conheço pelo menos um médico inscrito na OM que a pratica (se desejar posso dar-lhe o contacto) neste caso, como qualificar esta pática, é medicina, é fraude ? Cumprimentos, Rui Gonçalves