sábado, 12 de março de 2011

“Acabou! Sócrates fora. Já”!

Roubo este título ao meu caro José Correia Pinto, para marcar uma coincidência. É que ainda ontem à noite, mais ou menos à hora em que ele escrevia o seu “post”, conversava eu com quem bem me entende sobre coisa que me estava a atormentar como “mixed feelings”. 
Dupont ou Dupond, eis a questão! Nunca fui adepto do “quanto pior melhor” e julgo ter o sentido das diferenças. Não tenho dúvidas de que o senhorito Passos Coelho e a sua corte de economistas de serviço são visceralmente, estruturalmente, mais perigosamente neoliberalistas do que o senhorito Sócrates e os seus rapazes, que até, na sua cultura política e económica rasteira, talvez nem saibam muito bem o que isso é. Não tenho dúvidas de que o atual governo, mesmo que minimamente, ainda está um pouco mais condicionado pela sua base partidária de apoio do que um governo PSD-CDS. Nada me devia levar, em princípio, a preferir um governo de direita +++ a um governo de direita + (melhor, ++).
Todavia, será mesmo possível que qualquer governante de direita com o mínimo do sentido da sua sobrevivência política possa ir mais longe do que Sócrates na política de austeridade (veja-se a reação inequívoca de Passos Coelho ao PEC 4 agora anunciado)? Ou, se o fizer, não será por imposição externa? Mas então, será que Sócrates é mais resistente a essa imposição?
Então, afinal nada de absolutamente importante se me sobrepõe a uma simples questão de vergonha, de dignidade, de estar bem comigo: eu não posso votar num chico-esperto, num videirinho, num aldrabão, numa plasticina ética, sem estar a renegar tudo o que dei de educação aos meus filhos; eu não posso admitir que o meu país seja simbolizado por tal criatura; eu não posso ser cúmplice da intoxicação mental e ética a que ele submete os meus concidadãos; eu não posso pactuar com o sistema de corrupção, de ofensa ao valor do mérito, de cumplicidades de confraria quadrilheira em que ele baseia toda a sua máquina de poder e com que conspurcou um partido que, não sendo o meu, era essencial à democracia e a uma ideologia de esquerda, em sentido lato.
Isto do PS até talvez permita coisa que alguns acharão utópica. O PS está hoje letárgico e Sócrates secou a capacidade de debate, de reflexão ideológica e política do partido. Sabe-se bem porquê. Muita gente honesta não quer dar pretexto a acusações de desgaste do governo, mas principalmente muita gente do aparelho depende cada vez mais da corte socrática. Porém, se o governo cair, se o PS perder eleições, muita coisa pode mudar no PS e a sua ala mais aberta à esquerda, liberta da pandilha socrática, poderá ter mais força para uma inflexão política, no sentido da convergência, na oposição, com o PCP, o BE, o movimento sindical e movimentos sociais alternativos.
Dito isto, se não quero votar Dupont nem se me ocorre votar Dupond, o que me resta? PCP ou BE? Por razões que agora seria longo explicar, para mim não. Resta-me um voto que não tem sido devidamente explorado, mas que pode ser usado com significado político afirmativo, de rejeição do enquistamento do atual quadro partidário: o voto em branco (não a abstenção). Isto não é assim tão irrealista como possa parecer. Nas eleições desde 2002 até 2009, a votação no conjunto dos “partidos de poder” (PS-PSD-CDS) desceu 8%, enquanto que a percentagem dos votos brancos subiu 80%, tanto como o conjunto de PCP e BE. Com os 1,74% de votos em branco de 2009, ter-se-ia eleito um deputado, se fosse um partido. E nem falo dos 4,3% das últimas presidenciais, porque admito desde logo a crítica de que se trata de eleições de natureza diferente. Perguntar-me-ão: isto não vai diminuir o resultado, importante para a oposição, do PCP e do BE? Creio que não, que são eleitorados diferentes. Estou a pensar muito mais é nos descontentes que estão a engrossar a abstenção.
Ora aqui fica o desafio a todos os "web 2.0": nas próximas eleições, seja qual for o motivo do protesto, o que vale para facebook, mail, twitter, sms, é “vota em branco!”
Assim, como diz o título que “roubei”, acabou! Sócrates fora, já! Porque já é questão de saúde pública!Sócrates transformou este país n"um bairro aonde miam gatas, e o peixe podre gera os focos de infecção!"

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