Não tenho escrito sobre o caso Relvas-Lusófona. Sou pró-reitor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT), tenho conflitos de interesses. Apesar de membro da atual reitoria, liderada por Mário Moutinho, e que nada tem a ver com a reitoria anterior da época do caso Relvas, devo lealdade a todo um percurso institucional da responsabilidade da entidade proprietária, com decorrentes políticas académicas, a cargo da reitoria, seja a de então, seja a de hoje a que pertenço. No entanto, é óbvio que estou a escrever a título pessoal, em nada comprometendo a universidade, para o que nem sequer tenho poderes.
Mas também tenho o meu nome a defender e o direito a mostrar que estou a trabalhar, com a equipa reitoral a que pertenço e com a liderança do reitor, para que coisas destas não aconteçam mais, mesmo que tenham acontecido sem dolo - como estou convencido. Acho que chegou a altura em que escrever sobre este assunto tanto me defende como valoriza a ULHT.
Para mim, é altura de dizer publicamente - acho que com lucro para a ULHT - o que muito tenho discutido internamente, nas últimas semanas. Não houve nada de ilegal porque a lei está mal feita. Não houve coisa relevante de procedimento irregular, mais relevante do que a confusão processual da época, que tem estado a ser corrigida. Estou convencido de que não houve favorecimento pessoal propositado. Houve mau entendimento do processo de Bolonha. Houve desatenção em relação às repercussões - sempre relativamente inimagináveis -, de um caso que envolvia uma figura mediática. Houve uma prática de excessiva personalização do poder académico, que não é possível hoje, já foi corrigida. Houve falta de base técnica, numa interpretação bizarra, desinformada mas certamente bem intencionada do processo de Bolonha, de quem se julgava campeão, a nível do tal decisor único, sobre o processo e critérios de acreditação. Essa responsabilidade estritamente individual, teria consequências. Teve-as, mas, para mim, limitadas e ambíguas.
A ULHT dizendo isto, embora "politicamente incorreto", embora potencialmente alimento perverso de uma comunicação social irresponsável, creio que a opinião pública teria ficado com respeito e os alunos e seus pais confiantes na honestidade e qualidade da universidade.
Só escrevo isto hoje porque vou no sentido de um importante artigo publicado no Expresso de hoje pelo reitor, Mário Moutinho. Creio que encerra bem esta polémica. Pena é que não tivesse sido escrito logo de início, a abortá-la.
NOTA - Claro que a ULHT só apanhou por tabela. O essencial foi guerrilha político-partidária (e até me parece que mais intra-partidária). Simplesmente, alguém da ULHT, certamente bem colocado, teve acesso interno ao processo e usou-o, lesando profundamente a sua instituição. Outra lição para a ULHT e muitas outras instituições. A carreira política passa à frente de tudo; com esta "moralidade", não são só as instituições que saem prejudicadas, é a democracia que está em risco.