Cada vez mais tenho receios da possibilidade de uma deriva antidemocrática, mesmo que ela não vá tão longe como um claro e indiscutível golpe reacionário. Não julgo que esteja a ser exagerado. Boa parte do cultivo de terreno favorável à desvitalização da democracia vem do populismo que por aí anda, amplificado nos tempos de hoje por meios comunicacionais (internet) impensáveis há alguns anos.
Quando vejo pessoas que de forma alguma considero como antidemocratas difundirem todo um coro de coisas generalizadamente “anti-políticos”, anti-parlamento, de identificação automática da política com corrupção, de posições do tipo “só mudam as moscas”, etc., mesmo descontando que partidos e muitos políticos se põem a jeito, fico preocupado.
Pior é quando se perfilam ameaças concretas. Há tempos, foi a pressão de muitas figuras de direita sobre Cavaco para uma solução cesarista, a aproveitar a moda à Monti. Hoje, leio no DN que Vítor Gaspar “propôs hoje ‘alterações profundas do sistema político’ no período pós troika. Numa conferência do PSD, em Lisboa, o governante não entrou em detalhes, transformando a sua afirmação num enigma.” Há enigmas muito inquietantes. E cuidado com o cão!