sexta-feira, 6 de maio de 2011

Há alternativas

Finalmente, vejo por via dos Ladrões uma tomada de posição a pôr os partidos de esquerda confrontados com as suas responsabilidades (e, possível e desejavelmente, a arrastar no futuro o PS): “Convergência e Alternativa”. 
“Os signatários do presente documento lamentam que o PCP e o BE não tenham ousado avançar para as próximas eleições com uma grande coligação das esquerdas através da mobilização de activistas dos movimentos sociais e de personalidades diversas representativas de sectores progressistas da sociedade portuguesa. Esta falta de visão política é, do nosso ponto de vista, causadora de grande desânimo no eleitorado, e não apenas no que tradicionalmente vota à esquerda.”
Pela minha parte, como tenho escrito, esta situação até me faz considerar a hipótese de votar em branco (não abster-me), esperando que se comece a valorizar politicamente - claro que não eleitoralmente - o voto branco como um voto de protesto contra o “situacionismo” (e eu a usar um termo de Alberto João!…).
Mas também é essencial, como anotei acima, que esta ação não se enquiste no campo da esquerda que, por comodidade, direi que radical. “Entendemos também que não basta denunciar a submissão da actual direcção do PS às políticas de austeridade exigidas pelos mercados financeiros e pela UE. Sobretudo, é preciso que as restantes esquerdas aceitem iniciar um processo de convergência tendo em vista produzir uma alternativa política suficientemente credível para que, no futuro e sob pressão do eleitorado, o PS reconheça que tem um interlocutor com quem pode fazer um acordo político para tirar o País da crise.
Quem escreveu o que se pode ler aqui, aquiaqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui, e muito mais, certamente se revê nesta iniciativa, a apoia e com ela atuará. Ainda por cima com a deceção (previsível) de o tradicionalismo de visão partidária do PCP e do BE ter frustrado a sua aparente aproximação, há pouco tempo. 
Para mim, o manifesto é muito bom. Por exemplo, muito melhor do que o dos 74 de depois de 74. Claro que nunca um texto coletivo merece adesão palavra a palavra ou faz esquecer omissões. O que interessa é o essencial. Subscrevi e apelo à subscrição de quem não aceita derrotisticamente que não há outra solução senão a que nos é imposta pelo sistema hegemónico, pelo consenso de Bruxelas herdado de Washington, pelas santíssimas trindades interna e externa, pela bíblia de Berlim-Frankfurt, pela mediocridade paroquial do consenso dos nossos economistas de serviço. De quem ainda é capaz de dizer "Não sei por onde vou, / Não sei para onde vou, / Sei que não vou por aí!"


O que não impede que eu tenha dúvidas de não especialista, por exemplo em relação ao balanço de custos-benefícios da reestruturação da dívida. Espero que o novo movimento seja uma boa forma de eu me esclarecer.
Por falar de movimento, fica-me uma dúvida. O que é ele funcionalmente, que abertura tem, qual o papel dos subscritores de segunda geração, como eu? É que há ações previstas, e muito bem: “Apresentámos já aos partidos da esquerda, e ao eleitorado em geral, um manifesto com quatro vectores de uma estratégia global para vencer a crise. Interviremos no debate eleitoral defendendo as ideias deste manifesto. Promoveremos o diálogo e o debate aberto para encontrar as convergências que levem à construção de uma alternativa política forte. Após as eleições de 5 de Junho faremos uma avaliação dos resultados alcançados e tomaremos uma decisão sobre o que fazer a seguir.” Quem é este "nós"?

À margem - Só é chato que Convergência e Alternativa dê mediaticamente C&A :-)

P. S. (7.5.2011) - Comparei acima este manifesto com o dos 74 pós-74. Afinal, só depois me lembrei, era mais relevante ter comparado com outro com intenções mais interventivas do que o dos 74, mas a meu ver insosso, o da "Convergência nacional em torno do emprego e da coesão social".

3 comentários:

  1. Meu caro JVC,

    Seja bem-vindo ao CeA.
    Isto ainda está a começar, mas pode considerar-se da primeira geração de promotores.
    Os signatários do movimento receberão notícias das acções que forem organizadas.

    Um abraço do
    Jorge Bateira (um dos "nós")

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  2. Se alguma veterania ainda valer e compensar o reumático... :-)

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  3. Caro JVC
    Caro Jorge
    As alternativas, penso, para além de existirem, até já têm sido enunciadas, embora em geral de forma fragmentária.
    Sinceramente, inclino-me mais para pensar que, cada um à sua maneira, o BE, o PC e o próprio MRPP têm feito alguma coisa de válido, e podem ainda fazer muito mais.
    O problema, tal como o sinto, não consiste pois tanto em não haver contra-propostas à bela porcaria que PS, PSD e PP têm feito ao longo de décadas. Elas existem, são fragmentárias, são pouco e mal divulgadas (pelos outros, e às vezes pelos próprios), etc., mas repito: elas existem.
    A questão está mais: a) por um lado, no tribalismo e na miopia de cada um destes clubes, na sua aversão relativamente aos demais (mesmo quando isso parece estar ultrapassado, como em determinado momento pareceu no caso BE-PC, afinal depois vê-se que não está...), o que é evidentemente descoroçoador;
    b) por outro lado, no peso de chumbo que a "questão-euro" adquiriu e manteve até ao momento, mesmo numa boa parte desta tal "esquerda radical", sobretudo, parece-me, no Bloco. Ainda ontem, a atítulo de exemplo, ouvi o José Guilherme Gusmão, por quem aliás tenho muita estima, dizer que o abandono do euro seria "uma catástrofe"... isto quando meios políticos muito próximos elogiam abertamente a des-dolarização argentina, e de resto com argumentos quer de "saúde económica" quer de "saúde política" (será que a falta de democraticidade da UEM não interessa? será que é irrelevante?)
    Quanto a orientação de voto: não sei. Votarei decerto numa destas três siglas, ainda não me decidi (em Lisboa o Garcia parece ter chances...). Mas não me vou abster; nem votar branco. Ainda podiam confundir o meu protesto com o do Alberto João, livra!...
    Um abraço a ambos,
    João Carlos Graça

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