domingo, 8 de maio de 2011

O Bloco e o governo de esquerda

O Bloco de Esquerda (BE) tem coisas simpáticas mas ainda não passou da fase de acne juvenil. Muitas vezes é volúvel, inconsequente, imcompreensível. A confusão deste fim de semana, das suas mensagens contraditórias, em relação ao que entende ser o "governo de esquerda” deixa um comentador como eu em maus lençóis. Admito que por erro de informação, porque só me baseio no que transcrevi no meu canhenho do que os dirigentes iam dizendo.
Louçã falou num governo de esquerda. É coisa complexa e certamente Louçã assim a considera. Todavia, não teve em conta uma coisa elementar: a nossa comunicação social boçal não é capaz de entender subtilezas, centrou-se logo na questão “vai o BE estar aberto a coligação com o PS depois das próximas eleições?”. Com isto, nada mais da convenção passou para a opinião pública e foi ver a “troika” tradicional do BE à rasca sem saber como desfazer esta parvoíce de que eram culpados.
É claro que ninguém pensa que pode haver a curto prazo alguma proposta do BE, do PCP, dos movimentos e independentes que os estão a questionar, no sentido de um entendimento de esquerda com o PS com tradução parlamentar, muito menos governativa. A história não se esgota no próximo mês e uma grande virtude dos revolucionários é a paciência. Foi isto que Portas e Fazenda tiveram de enfatizar hoje, a corrigir a tontice de Louçã, cada vez mais auto-embrulhado na sua auto-satisfação. E tanto é verdade que Louçã, inabilmente, foi ao encontro da incultura política dos jornalistas que lhes deu azo à conversa de “com Sócrates ou sem Sócrates”. 

Receio que, tantos anos depois da diluição no BE dos seus fundadores partidos minúsculos, ainda a sua lógica continue a imperar. Mantêm tiques antigos e isto prejudica a renovação da esquerda.
Isto não é para ir buscar coisas velhas que já não dizem nada a ninguém. Mas isto é para dizer que, a meu ver, e para quem tem memória, os dirigentes do BE têm muito a explicar e a limpar-se face aos seus companheiros, aos seus eleitores e a todo o povo português. Principalmente, têm de explicar muito bem se e porquê não conseguem um entendimento com o PCP. Claro que o PCP não é pera doce, que não é fácil dialogar com os amigos da Coreia do Norte e das FARC. Mas é isto o essencial da dificuldade de diálogo ou ainda coisas já historicamente ridículas, de grandes oposições ideológicas, entre leninistas, trotskistas e maoistas? Quem é que hoje dá um cêntimo para esta discussão?
Voltando ao que verdadeiramente interessa, o “governo de esquerda” incluindo o PS, é óbvio que não pode ser um objetivo a curto prazo, muito menos com qualquer significado para as próximas eleições. O PS vai-se apresentar a eleições com Sócrates para disputar ao PSD a execução do programa “de unidade” imposto pela santíssima trindade. Tout court! Não há outro PS, este que vai a eleições é um partido que não pode entrar em qualquer imaginação de cenários de esquerda fantasista.
Há um setor de esquerda do PS com quem contar? Admito que sim, mas só depois de um infelizmente longo processo de debate e de tempo para essa gente cair em si. Sócrates acabou de ser eleito com mais de 90% de votos. Onde é que estão esses tais militantes de esquerda do PS? E onde estão os líderes alternativos que os podem galvanizar, é Seguro sempre seguro? Diferente é pensar nos eleitores, os muitos mais que não foram chamados a aclamar o querido líder. Mas estes só lentamente virão ao campo da luta alternativa ao consenso do carneirismo trindático - externo e também interno.
Não há mais pachorra para os “PS bons” do aparelho. Assumam-se. Claro que há milhares e milhares de “PS bons”, mas não os que fazem o jogo do “partido democrático” e de liberdade interna, para grande risada do patrão, dos seus meninos, dos seus mercenários de fazer imagem. “PS bons”, muitos e muitos, felizmente, são os eleitores que, votando até agora no PS, começam a dizer “basta”. É preciso que este grito vá com oferta de alternativa. Será a nova esquerda, não em 5 de Junho, mas depois cada dia e cada dia. 
Voltando à convenção do BE, ou este partido e o PCP percebem que vai ter de haver uma nova esquerda e se posicionam nela com inflexão dos seus paradigmas partidários mesquinhos, ou passam à triste memória, engolidos pela rua e pela net. Lembram-se do panorama partidário italiano dos anos 80, aparentemente indestrutível? Oxalá pensem bem, para não repetirmos a farsa, depois do drama, de virmos a ter um Berlusconi.

1 comentário:

  1. É verdade, meu caro, "uma grande virtude dos revolucionários é a paciência".

    Continua a alimentá-la aos que, como eu, aqui te vão lendo.

    Abraço
    V

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