Esperei pelo dia de hoje com curiosidade, o dia do encontro PCP-BE. Deu pouco ou deu muito? Deu pouco como resultado palpável, propostas, resoluções, perspetivas. Todavia, quem esperava mais? Mas deu muito no que já tinha dito, o primeiro ato de abrir, mesmo com fresta, a porta até agora cerrada entre os dois principais partidos de esquerda.
Começo por isto, “partidos de esquerda”. E então o PS? É claro que o PS está cheio de gente que se sente de esquerda. Mas isto basta para legitimar o PS como partido de esquerda? Claro que não, para provável desgosto desses meus amigos socialistas. Dominado pelo rapazinho, as suas propostas são só cosmeticamente diferentes das do outro rapazinho. É claro que entre 80% de direita e das suas receitas por parte do PS e 95% das ditas por parte do PSD/CDS, sei fazer contas, mas ninguém me leva a votar nesses 80%. É menos do que os 95, mas é muito, inaceitavelmente muito. É demais, não sou masoquista, não dou para o peditório de um PS a jogar na chantagem e a manter tudo na mesma. Eu quero mudança, mesmo que o meu voto de 5 de Junho só dê mudança quando eu já estiver em cinzas.
E, sobre os partidos de esquerda, o PEV/Verdes? Desculpem, mas o meu forçado esquecimento tático de muitas coisas, neste momento, não me obriga a tudo. Até porque, em relação a esses apêndices, quem não se sente não é filho de boa gente. "Est modus in rebus!"
Há quem duvide de que uma aproximação de esquerda dê resultados eleitorais. Isto foi dito, por exemplo, grande tiro no pé, por um conhecido bloquista, João Teixeira Lopes (JTL). Mais daria, com o benefício do método de Hondt, uma coligação pré-eleitoral, mas que já não vai a tempo. Mas dará certamente para muitos que se absteriam, que votariam branco, como eu próprio tenho defendido. Mesmo sem se ter isto em conta, esta visão é o que de perigoso pode ter este entendimento, funcionar à luz morrinhenta da simples perspetiva eleitoralista.
Há quem duvide de que uma aproximação de esquerda dê resultados eleitorais. Isto foi dito, por exemplo, grande tiro no pé, por um conhecido bloquista, João Teixeira Lopes (JTL). Mais daria, com o benefício do método de Hondt, uma coligação pré-eleitoral, mas que já não vai a tempo. Mas dará certamente para muitos que se absteriam, que votariam branco, como eu próprio tenho defendido. Mesmo sem se ter isto em conta, esta visão é o que de perigoso pode ter este entendimento, funcionar à luz morrinhenta da simples perspetiva eleitoralista.
Ainda vai passar muita água debaixo das pontes. Primeiro, em termos de sabedoria política, de bom senso, de sentido da eficácia, vou esquecer o que, por exemplo, JTL não conseguiu esquecer. Os dois partidos têm enormes arestas conflituais por limar, os seus dirigentes têm traumatismos relacionais antigos, não resolvidos, têm conflitos ideológicos hoje ridículos, coisas passadas no México em 1940, com um Trotsky que hoje ninguém sabe quem é, muito menos Mercader, coisas cómicas de livrinho vermelho na mão, horas e horas da minha juventude a discutir com maoistas que afinal eram meus grandes amigos pessoais. Têm uma rivalidade mais convencional porque, face ao partidarismo ferozmente aparelhístico do PCP, o “diferente” BE acabou por ser sua imagem e semelhante, projetando um líder com tão fanática imagem pública como Jerónimo (que até acho mais simpático, menos Savonarola).
Para as próximas eleições, vou dar de barato coisas que não digo que não sejam importantes, mas que podem esperar para outra altura: o antiamericanismo primário, o trotskismo, o marxismo-leninismo, o embevecimento de Fazenda com a Albânia (a mim mo disse), a OPA de M. Portas sobre o "meu" MDP em reconstrução de independência de alternativa de esquerda, o centralismo democrático, o apoio à Coreia do Norte e à Líbia, as FARC na festa do Avante, a diabolização primária das empresas, a desconfiança em relação a tudo o que cheire a mercado, etc. Tudo isto é dramático e/ou ridículo, tudo isto me impede de dizer que me revejo intectual e politicamente nos senhores Jerónimo e Louçã.
Mas eu vou votar no dia 5.6 olhando para o dia 6.6, para o imediato, a menos que ache que é mais importante olhar para o 6.6 mas de 2012 ou 2013. Não excluo, e então, claramente, o meu voto é branco.
Para já, os partidos de esquerda começam a apresentar propostas muito importantes que discutirei nos próximos dias, propostas em que muita gente tem vindo a pensar: venda de ativos, reestruturação da dívida, verdadeiro corte de cabelo da despesa pública, frente sulista na UE, berro de “basta” à sargenta prussiana (até Freitas do Amaral disse isto!), disciplinização e nova fiscalidade da banca, estímulo ao financiamento da dívida pelos portugueses, até, não é tabu embora seja coisa muito difícil, a saída do euro. São tudo coisas que tentarei discutir nos próximos tempos, na perspetiva de quem só escreve como cidadão e político, sem domínio da economia. Mas aberto à ideia essencial de que hoje quem não sabe de economia tem de a aprender com urgência.
Outra coisa essencial é que a aproximação dos partidos de esquerda, hoje encetada, é só o topo do icebergue. Se tudo for só conversas de jogo partidário até às eleições e a favorecer apenas a propaganda eleitoral de um e outro, não contem comigo para nem sequer um cêntimo para esse peditório. Se as direções partidárias sairem dos seus gabinetes, ouvirem as opiniões dos independentes e, principalmente, do povo zangado que hoje está a falar, mesmo que a dizer tolices - para os senhores ideólogos aparatchiks - aí sim, pago o que for preciso.
Resta saber, porque vai haver (ou melhor, há português técnico da Independente, vão haver) duas opções de voto na alternativa de esquerda, PCP/PEV e BE, em quem votar? História complicada, ainda vou ter de conversar bastante sobre isto.
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