Paul Krugman é “bête noire” para os nossos economistas de serviço. Não é cómodo lidar com tal crítico áspero do neoliberalismo e da política económica europeia, ainda por cima quando é um Nobel da Economia. “When Austerity Fails”, o seu último artigo no “The New York Times” (22.5.2011) parece-me notável, apesar de eu ser leigo. Por isto me senti na obrigação de o traduzir, para leitura de muita gente. Afinal, o jornal “i” de hoje poupou-me trabalho, publicando “Quando a austeridade falha”. Para abrir o apetite, deixo aqui uma passagem:
Na Europa, pelo contrário, são eles que mandam há mais de um ano, insistindo que a estabilidade da moeda e o equilíbrio orçamental são a resposta a todos os problemas. Por trás desta insistência estão algumas fantasias económicas, em particular a da fada da confiança - isto é, a convicção de que cortar na despesa vai de facto criar emprego, porque a austeridade vai criar confiança no sector privado. Infelizmente, a fada da confiança está a fazer-se rogada e a discussão em torno da melhor maneira de lidar com esta realidade desagradável ameaça tornar a Europa o centro de uma nova crise financeira.
(…) a fada da confiança até agora ainda não apareceu. A crise económica nos países europeus com problemas de endividamento agravou-se, como seria de esperar, e a confiança, em vez de aumentar, está em queda livre. Tornou-se evidente que a Grécia, a Irlanda e Portugal não serão capazes de pagar as suas dívidas na totalidade, embora Espanha talvez se aguente.
(…) Se quiser ser realista, a Europa tem de se preparar para aceitar uma redução da dívida (…) aos credores privados, que terão de se contentar com receber menos em troca de receber alguma coisa. Só que realismo é coisa que não parece abundar.
Por um lado, a Alemanha adoptou uma atitude dura em relação a qualquer ajuda aos vizinhos em dificuldades - isto apesar de uma das principais motivações do actual programa de resgates ser proteger os bancos alemães de perdas. (…) Por outro lado, o Banco Central Europeu está a comportar-se como se estivesse determinado a provocar uma crise financeira.
Vale a pena também a conclusão (tradução minha, por não concordar muito com a do jornal):
Então o que está o BCE a pensar? O meu palpite é que simplesmente não está disposto a encarar a falência das suas fantasias.E se isto pode parecer incrivelmente pateta, bem, quem é que disse que o mundo é governado pela sabedoria?
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