(Entre parênteses, duas notas. "Um país que consegue resolver os seus problemas". Ora vamos lá discutir um pouco de história portuguesa, se é que o senhor sabe tanto de história como de engenharia. É verdade que sim, episodicamente, mas cada vez menos, estruturalmente, para quem refletiu com Antero, como V. Exa. não fez, sobre as causas da decadência. Outra nota, muito mais importante, "segunda fase da crise", como se a crise da dívida não estivesse intimamente associada ao que presumo que chama de primeira fase, a crise financeira e da banca.)A generalidade dos analistas e agentes financeiros, mais agora que se anuncia a subida da taxa de juro pelo BCE, afirma sem dúvidas que a submissão do governo português é inevitável e que a posição de Sócrates não tem a ver com uma estratégia de economia política, só com a sua sobrevivência. Vão mais longe, apontam para a inevitabilidade de reestruturação da dívida, que se faz de cabeça erguida, à argentina, ou de mão à frente e mão atrás, provavelmente à Sócrates.
Quer isto dizer, se o governo tiver de pedir a ajuda externa, que conclusão tirará Sócrates? E desde já alertando para que não vale a batota de que não será o FMI. É que, neste março de grandes decisões europeias, é possível que, antes da previsão para 2013, a sargenta e seus cabos tenham de aceitar uma flexibilização imediata do fundo europeu, o FEEF, que disfarce o labéu de “aí vem o FMI”. É o meu palpite, embore contra ele possa jogar a política interna alemã, o seu próximo ciclo eleitoral e, com isto, nem sequer haver o rebuçado da “solidariedade europeia” que não é FEEF+FMI, não obstante ser, à mesma, desvalorização interna (salários e reformas), austeridade, redução extrema do défice orçamental, juros altos.
Lembram-se da célebre afirmação de Teixeira dos Santos, “o FMI virá mas quando nos obrigarem a juros superiores a 7%”?. Estamos, contas redondas, a 7,5%. E com o BCE cada vez mais renitente a soprar no balão de oxigénio, de emergência, baixando claramente, nas últimas semanas, o seu nível de compra da nossa dívida no mercado secundário.
Repito. O governo vai pagar como preço de um negócio complexo a 17/27 europeus, até ao fim do mês, o novo mecanismo de proteção do euro, europeus a olharem para a Espanha e a deixarem cair o nosso pequeno pião. Não é coisa que eu deseje, ao contrário da salivação gulosa dos nossos economistas de serviço, mas, objetivamente e apesar de não perito, é o que antevejo. Então, repito, vai o governo tirar conclusões, vai-se demitir?
Penso que será inevitável, com Cavaco a pressionar ao máximo, com o PSD a aparecer como salvador, sem o ónus do derrube de um governo “esforçado”. Mas o que virá a seguir? Muito provavelmente, eleições, muito possívelmente a substituir o rapazinho Sócrates pelo ainda pior rapazinho Passos Coelho. Não é coisa que me entusiasme.
Pelo contrário, vou tendo a patetice de pensar que ainda pode haver outra possibilidade, agora que o PS está em processo eleitoral interno. Que o PS, se não for um suicida compulsivo, gere urgentemente uma solução de alternativa a Sócrates, e, desejavelmente, com possibilidades de um entendimento à esquerda no parlamento. Já sei que estou a ser pateta, antecipo e aceito com inteira compreensão as críticas dos meus leitores lúcidos. Mas há alturas em que nos apetece ir contra a lógica e protestar, romanticamente, que “merda, não sou lúcido!”
Entretanto, vou reservando, apesar de tudo, alguma "merda de lucidez" para exigir que, com eleições à vista, os partidos respondam claramente quanto à sua análise, opinião de princípio, proposta programática, em relação a quatro questões fundamentais. 1. Alternativa realista a uma política económica neoliberal e austeritária. 2. Política europeia de concertação dos países periféricos. 3. Consequências e menorização delas, no caso de reestruturação da dívida. 4. No limite, saída do sistema do euro.
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