Tendo-se acabado de ouvir Passos Coelho, creio que ninguém tem dúvidas de que o governo Sócrates já morreu com morte anunciada, embora sem merecer crónica. Quando o presidente do PSD afirma, com grande assertividade, quase agressividade, que o PEC 4 já é ajuda externa encapotada, quando arrasa todas as medidas em tom de defesa definitiva das vítimas, quando dá praticamente a entender que deixou claro a Cavaco que não conte com o PSD para mais um entendimento, quando afirma preto no branco que nunca negociará este PEC 4 com o governo, Passos Coelho corta todas as amarras e fecha todas as portas possíveis, a menos que seja tão inábil político que não perceba que não tem margem de manobra nem espaço de recuo.
Claro que o preço que o PSD vai pagar será toda a campanha do PS a tentar convencer as pessoas da sua abertura a negociações, do seu desejo profundo de evitar uma crise, do seu “sentido patriótico” de que uma crise de que não é responsável (!) é uma provocação aos mercados - já agora, também à Sra. Merkel…
Não se sabe se o PS vai apresentar um projeto de resolução, mas ninguém duvida de que haverá um, nem que seja o já anunciado pelo CDS. Com esta posição extremada do PSD, não se vê como deixará de ser chumbado o PEC 4, a não ser que PCP e BE, ambos e absurdamente, não votem contra o PEC 4.
O governo morreu de facto. No entanto, não tenho por certo que haja dissolução da AR. Pode convir ao bloco central comprometer o PR com um governo da sua iniciativa, por exemplo um governo Catroga.
O que é muito interessante, para quem reflete sobre a política - mas numa atitude interventora - é que se juntam temporalmente duas situações de crise, como não me lembro depois do 25 de Abril: uma crise política convencional, institucional; e uma crise social, com a agitação da rua. Nenhum dos dois processos pode esquecer o outro. Vai ser muito interessante seguir esta dialética (dialética, isso ainda existe?!...), tentar compreendê-la e agir em conformidade. A pergunta que fiz, acerca do 12/3, “e o que se segue?”, começa agora a ser premente, se o crescente movimento social quiser influenciar o momento político, não podendo menosprezar o grande papel (hegemónico ainda) da política de “gente bem composta”… Mas também qualquer solução no plano convencional viverá o que vive uma rosa (sem piada para o PS) se não tiver em conta os muitos mais 12/3 que virão por aí fora.
Foram talvez 50.000 na rua, sábado. Talvez sejam 100.000 depois de amanhã. Por cada pessoa que se levanta do sofá para ir à rua, há dez votantes mais passivos mas que sentem o mesmo, estão zangados. Temos um milhão de eleitores zangados, mas possivelmente também perplexos, confusos. Se houver agora eleições, em quem vão votar? No Pe. Malagrida?
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