Há dias, uma jornalista, já não muito principiante, a julgar pela idade, pediu-me uma entrevista sobre um assunto importante da política da educação superior. Chamemos-lhe o assunto A. Com pedido formal de concordância, pediu-me para gravar a entrevista, ao que eu respondi que nem todos os açorianos têm por hábito meter gravadores ao bolso. Depois, deu-me liberdade para falar livremente sobre o tema A, até que eu comecei a ver que ela estava a bocejar.
Passámos então às perguntas. A senhora sacou de um papel em que as trazia todas. Não fez uma única em decorrência da conversa, seguiu religiosamente o trabalho de casa. E, uma atrás da outra, eram “como é que A resultou em B1, B2, B3, etc.?” E eu sempre a responder, “já lhe disse, é o inverso, B1, etc., é que desenvolveram A. Ou, melhor, é uma interação ativa (se eu lhe dissesse "dialética", ela tinha um badagaio!), entre A e B. As coisas vão em paralelo”. A senhora não percebeu.
Isto vem a propósito de ter assistido agora a uma entrevista com o líder parlamentar do BE, na SIC-N, feita por um jornalista que não conheço, mas com um fácies inteligentíssimo. Julgam que estou a brincar? Um professor experiente olha para um aluno, lê-lhe a expressão e adivinha a capacidade mental. Olhem que raramente me engano! Há caras inteligentes e caras estúpidas. Mais concretamente, é a chispa do olhar! Brilhante ou baço, "that is the question".
O pobre do dirigente parlamentar bloguista bem queria afirmar o seu discurso, mas o jornalista estava noutra. Se Pureza falava em austeridade, o jornalista perguntava logo o que é que isso queria dizer em termos de coligações eleitorais futuras. “A nossa proposta política é…”, tentava Pureza, mas era logo interrompido, “estão dispostos a fazer coligação com o PS?”. Não há pachorra! E há quem considere isto o quarto poder?
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