quarta-feira, 20 de abril de 2011

Diálogo de surdos do ouvido esquerdo

“Manuel Alegre considerou ontem que o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, manifestou "falta de respeito" pelo Parlamento e por "figuras" sociais-democratas ao prometer apoiar Fernando Nobre para presidente da Assembleia da República. (…) O que me assusta é que um candidato a primeiro-ministro tenha mostrado uma tal falta de consideração e de respeito pelo Parlamento. Falta de consideração e de respeito até por figuras do seu próprio partido que poderiam naturalmente aspirar e tinham o direito de ser presidentes da Assembleia da República". (Público)
Tem toda a razão, mas parece-me fotografia desfocada. Nos tempos de hoje, com a troika da pasta preta instalada no Terreiro do Paço, ainda há quem veja a política desta forma acaciana, redonda, convencional, lusateniense, “Forte ad Coimbram…” Tenho de estender a mão à palmatória, eu que fui membro, parece que de honra, da candidatura poética. Pergunta o meu grilo falante, que não vai em mitos de gerações heróicas, “como é possível, se a tua única justificação para nos tirares tempo, e muito bem, aos nossos grandes prazeres tardios de vida, merecidos, é a diferença de qualidade e a coerência, até a tua vingança compreensível contra o domínio da mediocridade de hoje?
É o peso enorme, merecido, a confortarmos o passado, das velhas solidariedades. Um querido amigo telefonou-me a pedir o nome, não podia recusar (?). Mas é verdade que há que distinguir os afetos, as identificações construídas ao longo de muitos anos e de sofrimentos comuns, a partilha da cultura, o prazer das patuscadas no ninho da águia - “cuidado, já são matinas e os vizinhos de baixo estão a dormir” - e a noção muito exata, no fio da navalha, do que justifica ou não algum posicionamento no espaço exterior de quem já devia viver no seu fechado apartamento de professor viscontiniano, do Albergo.
Comentei sobre isto e o manifesto abrangente, com excelentes mas insignificantes figuras do PS, no Grande Zoo. Rui Namorado, que muito prezo, respondeu-me na forma mais correta, mais educada, mais democraticamente respeitosa das opiniões alheias, mas, a meu ver, mais vazia politicamente. Percebem porque não assino o manifesto “de esquerda”?

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