Já mais do que um amigo - daqueles, próximos, que bem preferem falar diretamente a deixarem comentário no “post” - considerou eu estar a incorrer em algum simplismo, dirigindo muito enfaticamente críticas, responsabilidades, entraves a novas políticas, à Sra. Merkel. Será que estou mesmo a ser antigermanista, acrítico? Há pouco, ouvi as seguintes declarações, de dois políticos que certamente não perfilham as minhas posições políticas. Todavia, isto não impede algumas convergências significativas. Disse o primeiro:
Hoje quem manda é a senhora Merkel e um pouco o senhor Sarkozy, porque ela precisa do Sarkozy e o Sarkozy obedece. (…) A senhora Merkel é a economia mais próspera da Europa e por isso é quem manda. (…) E quem é que fez a unidade alemã senão toda a Europa que entrou com dinheiro para permitir que a Alemanha se unisse - e ainda bem que se uniu -, mas não para vir agora mandar na Europa ou ser dona da Europa, porque isso levanta-nos logo uma situação terrível que é a de começarmos a pensar 'mas estes alemães já nos levaram a duas guerras mundiais. Vamos para outra?'
Disse o segundo:
Os especuladores não estão diretamente interessados em Portugal, mas antes em testar a vontade de Angela Merkel em defender o euro. Se isso for assim, a especulação contra Portugal não vai parar. (…) Este [é] o momento para travar o comportamento político da chanceler alemã, que no seu Parlamento criticou os deputados portugueses. (…) Merkel só foi eleita por 40 por cento do povo alemão, mas não foi eleita chanceler da Europa. Caso a chanceler alemã pretender que os outros países concretizem a sua visão política, (…) que aceite o federalismo político (…), que vá a eleições e se for Chanceler da Europa cá estamos para lhe obedecer. (…) Angela Merkel vai até onde a deixarem ir, mas nunca irá mais além. Quando surgir alguém a dizer basta, parará. Acho que está na altura de alguém dizer basta.
O primeiro texto é de Mário Soares, o segundo de Freitas do Amaral. Alguém os julga políticos irrefletidos, levianos, anti-europeus, defensores de uma rotura na lógica da construção europeia e do euro? Mas não estão a ser também, como me diz respeito, “antigermanistas primários”?
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