Das sessões paralelas do CDA, escolhi para participar a que me pareceu mais fértil em polémica e também a de maior importância no quadro político atual: “Desafios da denúncia do memorando da troika”. Para além de João Rodrigues, de que falarei depois, intervieram como convidados João Ferreira do Amaral, Jorge Bateira e Ricardo Cabral. Depois, embora com tempo muito limitado, um bom número de participantes, eu incluído.
O ponto de partida já era importante, as propostas da declaração, que tinham reunido amplo consenso em muitas reuniões de preparação do congresso. Tão importantes que, provavelmente para muita gente, como eu, foram fator decisivo de apoio ao CDA e que afinal, de forma mais elaborada, dão eco ao grito de 15 de setembro, “fora com a troika, queremos a nossa vida”.
Denúncia do Memorando e abertura de um processo negocial com a UE, o BCE e o FMI a partir de uma posição determinada, ancorada no reconhecimento de que os pressupostos do memorando estão errados;
Reestruturação da dívida colocada no topo da agenda das negociações;
Preparação para os cenários adversos que podem resultar de uma atitude negativa da troika, traduzida numa suspensão do financiamento internacional (incluindo a necessidade de declarar uma moratória ao serviço da dívida);
Como bem explicado pelos conferencistas, isto é tudo viável, não viola nenhum dogma dos proclamados pelos apóstolos tipo Gaspar e seus amigos da seita ultra-neo-liberal. E nem é nada de radical, pode ser faseado, envolvendo sempre um processo negocial mas corajoso, em que, a cada passo, já está preparado o segundo, os adversários sabem que há coragem de avançar para ele e o povo está bem elucidado sobre as consequências. É tudo uma questão de coluna vertebral!
Nem toda a gente concordou com todas as propostas concretas. Alguns manifestaram dúvidas. Outros queriam ir mais longe. Muito bem, é natural, mostra que há muito trabalho de estudo e debate pela frente. Mas numa coisa estavam todos de acordo: não à intoxicação dos “economistas iluminados” de que não há alternativas à política austeritária e neoliberal, fase suprema atual do capitalismo.
A única voz discordante foi da eurodeputada Ana Gomes, numa intervenção histriónica e desequilibrada, berradamente oposta a tudo o que fosse violação “jurídica” (palavra dela) dos nossos compromissos, e com fé - tanta como a de Gaspar mas sobre outra coisa - de que tudo se resolverá no quadro europeu, aquele em que ela se move e é justificação da sua vida.
Não foi bonito que tivesse sido apupada, mas mereceu. Só uma tonta é que, sem prejuízo do seu direito de expressão, vai dizer ali coisas tão opostas ao que qualquer pessoa politicamente responsável percebia que era o sentimento comum que ali tinha congregado tanta gente. No entanto, quando ela disse explicitamente que nem podia pensar na saída do euro, foi muito aplaudida por um setor da sala, maioritariamente jovem, que identifico facilmente - sei alguma coisas de política. E não eram PS!
Não foi bonito que tivesse sido apupada, mas mereceu. Só uma tonta é que, sem prejuízo do seu direito de expressão, vai dizer ali coisas tão opostas ao que qualquer pessoa politicamente responsável percebia que era o sentimento comum que ali tinha congregado tanta gente. No entanto, quando ela disse explicitamente que nem podia pensar na saída do euro, foi muito aplaudida por um setor da sala, maioritariamente jovem, que identifico facilmente - sei alguma coisas de política. E não eram PS!
Ficaram em aberto duas questões, a meu ver bem porque seriam fraturantes e há tempo na evolução do CDA para as discutir. Em primeiro lugar, a proposta de suspensão imediata do pagamento da dívida (não percebi bem se quem o propunha estava a falar da dívida ou do serviço da dívida). Mais importante é a eventualidade da saída do euro.
Para quem acha que o CDA foi uma espécie de estados gerais do BE, este último ponto é pedra de toque. Como se sabe, a questão do euro é tabu para o BE, pelo menos para a sua linha louçã-dominante, aliás como defende a sua inspiradora Syriza. Pelo contrário, o debate dessa sessão do CDA, a começar pelas intervenções da mesa, admitiu perfeitamente a saída do euro, obviamente não como tese à cabeça, mas como uma possibilidade como outras, a estudar no momento, no decurso do nosso processo de libertação da política troikiana, externa e interna.
Isto já vinha na proposta de declaração do congresso, de forma para mim talvez fracamente assertiva, mas há que fazer compromissos unitários:
“A saída do euro é a ameaça sempre exibida logo que a denúncia do memorando é sugerida. O objetivo é assustar, paralisar, bloquear a necessária discussão acerca do conjunto de alternativas em presença. Na realidade, uma saída unilateral do euro teria certamente consequências pesadas, mas ninguém sabe, ou pode, calcular com rigor os custos e benefícios de uma tal opção face a outras alternativas.”
Eu propus que figurasse explicitamente na declaração que era urgente estudar as consequências de tal medida, mandatando para isto a comissão organizadora do CDA. Por razões de ocupação profissional, não tinha feito regulamentarmente a proposta, a seu tempo. Não importa, estou convencido de que ela se vai impor na prática, a curto prazo.
À margem - na sessão da tarde, fiquei surpreendido por ouvir uma intervenção de João Rodrigues, “relator” do tema, completamente ao arrepio do que se tinha discutido. Devo confessar que, para dentro de mim, o acusei de manipulação partidária. Afinal, só depois percebi que o seu papel era o de apresentar um texto preparado anteriormente e que eu não conhecia, que não foi referido, muito menos discutido. Se isto se passou com os outros “relatores” na sessão plenária (como o aplaudidíssimo José Manuel Pureza, com o seu texto muito bonito mas panfletário), se eram intervenções antecipadamente preparadas, como me disseram, lamento, porque não ficou conhecido o teor das discussões setoriais da manhã, certamente tão ricas como foi na minha. Foi decisão um pouco "à antiga sovieto ou trotsquista" da organização. Curiosamente, Pureza e Rodrigues, etc... Meu caro Marcelo, vou estar atento.
À margem - na sessão da tarde, fiquei surpreendido por ouvir uma intervenção de João Rodrigues, “relator” do tema, completamente ao arrepio do que se tinha discutido. Devo confessar que, para dentro de mim, o acusei de manipulação partidária. Afinal, só depois percebi que o seu papel era o de apresentar um texto preparado anteriormente e que eu não conhecia, que não foi referido, muito menos discutido. Se isto se passou com os outros “relatores” na sessão plenária (como o aplaudidíssimo José Manuel Pureza, com o seu texto muito bonito mas panfletário), se eram intervenções antecipadamente preparadas, como me disseram, lamento, porque não ficou conhecido o teor das discussões setoriais da manhã, certamente tão ricas como foi na minha. Foi decisão um pouco "à antiga sovieto ou trotsquista" da organização. Curiosamente, Pureza e Rodrigues, etc... Meu caro Marcelo, vou estar atento.
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