segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um simples gráfico, um gráfico eloquente



Há coisas bem eloquentes, como este gráfico publicado por Paul Krugman. O sucesso alemão é o da austeridade, é verdade; aceitemos embora como simplificação, entendendo austeridade como o necessário para cumprimento dos limites religiosos aos três pecados, o défice, a dívida, a inflação. Por isto nos querem impô-la, como “prova” do sucesso da ideologia neo-liberal (aliás, por falar em Alemanha, anteriormente já a germânica ideologia ordo-liberal). 
Mas qual foi o preço que, arrebanhadamente, e com a cumplicidade dos seus sindicatos-empresa (dos maiores expoentes da economia e da finança alemã) eles aceitaram passivamente, para poderem ter o superavit que nos destruiu as economias periféricas? Vejam o gráfico. E os bancos e empresas alemães tiveram correspondente baixa de resultados económicos?
Continua muito boa gente a dizer que eles são melhores do que nós (e dos aldrabões e preguiçosos dos gregos nem se fala!) só porque são mais trabalhadores, mais "sérios", não gastam mais do que podem, são disciplinados, tudo exemplo do que "afinal sempre foram exemplo ao longo da história" (será mesmo que foi assim a história?... Lutero, Gutenberg, Leibnitz, Kant, Marx e Einstein - que eram judeus; e os muitos tiranos, Bismarck, os generais de Guilherme II, Hitler, etc., a história nunca é linear). 

Para esta muita gente que me custa a pensar que são meus compatriotas, este recente germanismo contrapõe-se a uma espécie de "marca genética" dos portugueses (e gregos, e italianos, e espanhóis, um dia destes franceses) que ainda provoca o novo e atual exercício masoquista da crítica das Farpas, que não leio. O tempo de hoje já não é para brilhantes exercícios literários de diletantes.

Vejam bem o gráfico. Eles diferem de nós é por, em uma década, terem consentido numa "desvalorização interna" (baixa do custo do trabalho) porque não podem ganhar competitividade pela desvalorização da moeda comum.
Diz um primo meu, alemão (eles não são todos iguais, obviamente, como se vê por este meu primo) que a história alemã alterna fases de estarem de joelhos ou de cavalgarem os outros, nunca têm meio termo. O gráfico mostra que o U. não tem obrigatoriamente razão. Há períodos, como o atual, em que cavalgam os outros porque, entre eles, se puseram de joelhos (os trabalhadores, claro).

NOTA - Sobre os mitos de "caracterização genética dos povos", ainda ontem tive a experiência curiosa de alguns amigos me manifestarem a sua certeza de que nunca em Portugal vai haver revolta nas ruas, coisas terríveis como delapidar bancos ou atirar pedras à polícia, porque somos diferentes, um povo de bons costumes. Como é possível dizer-se isto quase quatro décadas depois desta típica propaganda salazarista? As lutas violentas, fratricidas, entre os bandos de nobreza, reis, infantes e infantas, na primeira dinastia? E 1383 e o bispo defenestrado? E as muitas "jacqueries" que aconteceram na nossa história? E o massacre de 1506? E os autos de fé? E as lutas civis liberais-absolutistas? E a Patuleia? E o regicídio? E a violência da República (que o diga Machado dos Santos)? E o assassinato de Sidónio? E até o Malhadinhas, como figura típica, embora ficcionada?

1 comentário:

  1. O gráfico não consente discordâncias, porque não pode ser posto em causa o rigor dos dados cuja quantificação descreve graficamente.
    Mas consente leituras.
    Não me reivindico do saber económico, embora tenha estudado economia in illo tempore e propenda a não esquecer o que compreendi. Mas ousaria dizer que essa descida do custo do trabalho reflecte a dimensão de uma economia que incorpora na proporção da sua pujança o baixíssimo custo da mão de obra "global". Muitos produtos com badge alemão foram total ou parcialmente construídos com custos laborais "chineses", ou, se nisso tiverem vantagem, "portugueses", "checos", "húngaros" ou "polacos". Com a nuance de que todos esses mercados, com destaque para o chinês pela sua dimensão e crescimento, são local de eleição para a proveitosa colocação de produtos com baixíssima incorporação de mão de obra local (são mesmo maioritariamente "alemães") mas custo elevado, ou seja, "alemão".
    Parece uma tautologia insistir em que num mercado interno que por definição é fechado a Lei de Lavoisier tem plena aplicabilidade. Se o produto interno da terra dos teutões aumenta grandemente, e o dinheiro alemão circula livremente no interior do euroespaço, eu diria que, sem um crescimento paralelo (insustentável) das economias satélites, o marco (disfarçado de euro) serve para ser emprestado aos que o vão usar para comprar alemão.
    Penso que a obsessão teutónica em impor o "bem comum" (segundo a sua visão), pode ser cega para os votantes da Baixa Saxónia, mas não para os meios financeiros, jamais inocentes desde que tenham cifras a negro.
    A sua contabilidade nunca teve em grande conta a vida humana, alemães incluídos, porque as suas fortunas foram sempre reconstruídas sobre os escombros.
    Temo - os nacionalismos emergentes são disso um alarmante sinal - que estejam tentados a brincar de novo com o fogo.
    Sobre a nota final, acompanho-o em absoluto: para certos iluminados as nossas desgraças têm uma causa genética. Concordaria apenas na medida em que a sua diletante sabedoria mostra um défice de acção, na organização inteligente da sociedade em que criticam as vítimas da sua própria inépcia. Se há uma "má genética" seria aí que ela se veria, na vasta oligarquia dos imbecis encartados.
    Mas não. No que acredito, sim, é que a riqueza genética dos portugueses, adquirida na sua constante miscigenação histórica, lhes confere uma importante força, a capacidade de adaptação revelada também na sua inventiva capacidade de improvisação. Tem os lado negativo, nessa alarve crença de que se desenrascarão sempre, mas vai dando para aguentar com a triste incompetência dos iluminados.
    O que não é coisa pouca e ganharia em ser mais "proactiva", como eles gostam de ouvir.
    Lá chegarão.

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