quarta-feira, 9 de maio de 2012

Nazis gregos; e portugueses?


Um dos meus grilos falantes, que muito prezo, pintos da mesma ninhada, estranhou que eu não tivesse escrito nada sobre este fim de semana eleitoral. Respondi-lhe: “Não vou repetir as banalidades (e sem rigor) que toda a gente está a escrever. A situação ainda está demasiadamente confusa. Quando houver coisas mais definidas, comento. Para taco-a-taco diário, há os blogues dos amigos do Louçã, também “meu amigo”, como tu dizes.”
Afinal, talvez se possa dizer já alguma coisa. Não sobre a França, a não ser pelo lado Le Pen, que se relaciona como que vou escrever a seguir. Hollande, vou ver, sempre com a desconfiança de que, depois de Blair e da sua terceira via, a social-democracia europeia é uma prostituta de pernas abertas a todos os gaspares da religião económica do segundo milénio (um dia destes falo sobre o milenarismo, tema que me apaixona - leram o Nome da Rosa e sobre os “fratricelli”?).
Parece-me mais aliciante como tema de reflexão o resultado das eleições gregas. E nem vamos entrar em conta com o bónus de 50 lugares ao primeiro partido, que perverte a discussão sobre a legitimidade da representação, mas que é conforme à sua constituição.
O impasse vem de as coisas não serem lineares, por exemplo, esquerda e direita. A direita é o conjunto pró-troika, metendo nessa direita, para este efeito prático, o PASOK? Teria maioria, mas só com os neonazis e ainda não estamos nessa (mas lá chegaremos?). O conjunto anti-troika também não tem maioria e é inconsequente, com antagonismo visceral entre o partido comunista (KKE) e o Syriza (dito semelhante ao nosso BE, mas mais pragmático e politicamente inteligente) a juntar à ambiguidade da Esquerda democrática, essa sim, a meu ver, mais próxima do nosso BE: contra a troika em discurso, mas a favor do euro e da fada europeia.
De tudo isto, decorre a importância da extrema-direita. Em relação à França, a coisa foi evidente, embora com o aspeto interessante do aproveitamento de um discurso populista ou obreirista primário. Afinal, o partido nazi não se chamava nacional-socialista?
Na Grécia, já era preocupante o peso anterior do LAOS. Mas, se formos ler os seus  discursos, não diferem muito dos do nosso CDS. Nós é que temos algum desvio de  caracterização terminológica dos nossos partidos, porque o CDS é mesmo extrema direita (embora não neonazi) e o PSD é retintamente direita. 
O LAOS grego, o nosso CDS, foi varrido, em favor de um partido retintamente pró-nazi, a Aurora dourada.Creio que é uma diferença considerável em relação a Portugal. Não vejo nenhuma organização retintamente fascista com capacidade de implantação eleitoral deste tipo.
Mas não esqueçamos a história. As crises como esta geram ou alimentam filhos extremos de violência e de rejeição das “normas civilizadas” do sistema democrático. Depois da Grande Guerra de 1914-18, quase chegou a haver uma revolução socialista-soviética na Alemanha. Depois, a “civilizada e democrática” República de Weimar, imersa na monumental crise económica das reparações de Versalhes e da inflação galopante, viu afundar-se o centro político e defrontarem-se os extremos, a esquerda comunista e socialista, e os nazis. Ganharam estes e por via eleitoral.
Tudo isto foi em meia dúzia de anos, desde um comício de centenas de pessoas em Munique até à vitória nas urnas. Alguém pode apostar que, nestes 3 ou 5 anos próximos de crise, não apareça um “chefe lusitano”? Eu até tenho o palpite de quem será, apesar de já velho para o ofício. 

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