quinta-feira, 24 de maio de 2012

A responsabilidade dos economistas


Há dias, um jovem economista de alta qualidade intelectual e que me dizem ser um muito bom profissional, recusava, e com inteira justiça, o epíteto de “economista formatado”. Claro que eu nunca disse que eram todos, mas isto também não anula a minha idéia de que, como quadro geral, as nossas escolas de pendor ideológico (Economia e Direito à cabeça, mas também Ciências sociais) são altamente responsáveis pela hegemonia ideológica de direita, muito para além da consciência das pessoas de o serem (e influenciando muita gente, como muitos eleitores do PS, que sinceramente recusam esse posicionamento político).
Creio que o meu jovem interlocutor não me recusa a apreciação de que ele, e outros que querem pensar pela sua cabeça, andam confusos. A sua posição, resumida, é: “assim como o J certamente não pensa que a grande maioria dos seus colegas investigadores em Biologia são ignorantes ou aldrabões, não me é fácil aceitar que digam que tantos professores meus ou por este mundo fora, grandes investigadores em Economia ou com grande experiência nos organismos internacionais estejam todos errados. E certamente não são loucos a quererem fazer mal às pessoas”.
Quanto à última afirmação, já aqui escrevi alguma coisa que agora não consigo localizar. Claro que Gaspar, para exemplificar, não é um criminoso psicopata, não tem prazer mórbido em saber que alguém foi despedido, mas considera isso como o preço inevitável do que para ele é mais importante, a sua ideologia, a sua razão de vida. 
Gaspar não é um malévolo consciente, mas é obviamente um fanático cego pela sua crença no neoliberalismo, não como “simples” teoria económica mas como projeto de sociedade, aquela em que ele gostaria de viver, como outros fanáticos ao longo da história lutaram e até morreram por projetos históricos de sociedade para que estavam religiosamente predestinados. Na manifestação do seu pensamento, não há um "discurso crítico" científico, não há uma justificação racional, nem sequer uma apresentação de dados justificativos. Há fé e crença.

Sempre houve homens desses. A sua enorme vaidade, egocentrismo e aberrante sentido de predestinação torna-os perigosos quando têm nas mãos os destinos e a vida de milhões de compatriotas. Não é preciso saber muito de história para nos lembrarmos do que isto significa.
Quanto à primeira parte da conversa, sobre a respeitabilidade académica dos economistas, sobre a sua autoridade intelectual e a sua isenção ética, limito-me a propor a visão do vídeo acima, uma entrevista com Rob Johnson, presidente do Institute for New Economic Thinking, INET, sobre a responsabilidade moral dos economistas. Descobri-a no blogue de Varoufakis.

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