Ora aqui está um economista de renome que defende a reestruturação da dívida, não só por ser objetivamente o cenário mais provável mas também o mais desejável. Passo a citar:
“Uma das formas de os países muito endividados conseguirem evitar uma situação financeira mais delicada é a aceleração do crescimento económico. Neste sentido, não interessa necessariamente que a dívida de um país seja elevada. O que interessa é que os rendimentos desse país cresçam mais rapidamente do que a dívida. (…) Uma das causas do nosso elevado endividamento é precisamente o nosso crescimento medíocre nos últimos anos. Por isso, neste momento, e infelizmente, esta saída não parece exequível.
Outra possibilidade de tornar a nossa dívida menos problemática e evitar uma situação de incumprimento poderia ser o estabelecimento de uma união fiscal europeia, na qual existiria uma maior integração das políticas fiscais e mecanismos de redistribuição fiscal entre os países da Zona Euro. (…) Como é evidente, o grande problema deste cenário é que não parece haver grande interesse ou vontade política por esta opção, nem em países como a Alemanha (que decerto seria um dos grandes financiadores dos Estados em dificuldades), nem nos países da periferia europeia (que perderiam ainda mais a sua soberania económica para os países financiadores da união fiscal). Por isso, o cenário de uma união fiscal europeia não parece exequível.
Um cenário alternativo, mas igualmente pouco provável, seria o fim do euro, ou a saída unilateral de alguns países da moeda única europeia. Esta possibilidade não está totalmente posta de lado, apesar de não ser muito provável. (…)
Finalmente, há ainda a possibilidade de reestruturar a dívida dos países em dificuldades, com uma possível insolvência parcial de um ou mais países e/ou o reescalonamento e a renegociação das dívidas soberanas nacionais. Neste caso, os países em dificuldades tentariam não só aumentar os prazos de pagamento das suas dívidas, mas também conseguir melhores facilidades de pagamento. Como? Quer através da redução das taxas de juro ciadas às suas dívidas, quer inclusivamente renegociando montantes do endividamento. Por isso, neste caso, os detentores das obrigações desses Estados seriam forçados a partilhar os custos da reestruturação da dívida. Esta é, de facto, a hipótese provável e, porventura, também a mais desejável.
(…) É possível e até provável que não consigamos evitar uma reestruturação das nossas dívidas. (…) perante o terrível leque de opções que enfrentamos, (…) a solução menos má parece ser a da reestruturação das nossas dívidas.” [JVC - itálico meu]
Quem escreveu isto, há bem pouco tempo, no seu livro muito auto-propagandeado (blogue Desmitos) e vendido, “Portugal na hora da verdade”? Álvaro Santos Pereira, que certamente vai atuar coerentemente com estas ideias agora que é ministro da Economia.
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