Vou falar de um “fait divers”, mas significativo, dos 45 minutos que demorei há pouco entre o Campo Grande e o Fonte Nova, na 2ª circular. As pessoas estão tão zangadas com “todos os políticos” que acham que o único problema é a corrupção, a desonestidade, a falta de ética. Não é. Isso é só o cume do iceberg permitido por coisas muito mais invisíveis, a incultura, o primarismo intelectual, o paroquialismo, o refastelanço na impunidade, a incompetência, o “funcionalismo”. O Estado é podre no cimo porque as suas raízes são podres.
Os funcionários públicos estão hoje na primeira linha das vítimas da austeridade, não há dúvida. Mas continuam a ser privilegiados em termos de relativa impunidade, não só pela lei mas principalmente pelos costumes e pela cultura política e administrativa, pela falta de sentido da exigência ética do serviço público. "Civil servant", na cultura britânica, é coisa que cá nem se imagina o que é.
Coisas que em qualquer empresa levariam a castigo duro e imediato empastelam-se na administração em intermináveis processos disciplinares cheios de garantias. Quando chegam a ser postos! porque eu tive experiência, na minha breve vida de dirigente, de me dizerem “olhe que isso não vai dar nada e só diminui a sua autoridade”. E tive um caso destes, de desautorização pelo reitor de um processo disciplinar óbvio a um professor, seu “par”. Corporativismo académico!
Uma via principal de Lisboa bloqueada em duas das suas três faixas às 15 horas de uma sexta feira, claro que só com um grande acidente, pensei eu. Afinal não. Eram três operários, a ritmo lento e com uma pequena escavadora a abrirem uma vala em duas das faixas de rodagem. Em qualquer país desenvolvido, isto despacha-se entre as 3 e as 6 da madrugada. Em Lisboa não. Quem deu ordem para tal enormidade? Certamente algum engenheiro da CML. Mas o Dr. António Costa tem poderes para mandar imediatamente para casa esse Sr X, para exemplo de todos os Srs Y nem se atreverem a tal imbecilidade? E se derem esse poder ao Dr. António Costa, não cai logo o Carmo e a Trindade do nosso garantismo?
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