Ia deixar este comentário no bom “post” do José Correia Pinto, no Politeia, sobre o discurso acaciano de Barreto, mas acabou por sair longo e a merecer destaque no meu “blogue”. O tema, não o diz CP mas provavelmente pensa e digo eu, era o da venalidade, em sentido lato, dos nossos intelectuais.
Deixo de lado, em resposta ao “post”, adjetivações que também muito me apetecem. Mas o importante é ver como uma data de gente, pomposa, exausta, arredondada, suavizada e alentada de voz, solenes - afinal não resisto aos adjetivos! -, impera mediaticamente. Domina em hegemonia - ah, nosso caro Gramsci! Dão cobertura de maior nível cultural aos economistas e serventuários de obrigação.
Muito tipicamente, são os subscritores sensatos, sábios, bem comportados, do manifesto dos 47, “Um compromisso nacional” (nacional, uma das mais perigosas palavras!). Os que dizem que é imperioso um compromisso entre o Presidente da República e os principais partidos para que o governo (então Sócrates) tenha plenas condições para governar, com base nos PEC (ainda não havia os acordos com a troika).
Tenho dito que o primeiro dever de um homem de esquerda é distinguir-se dos falsos homens de esquerda, os que a mancham. Lendo os subscritores desse infeliz manifesto, tenho de apontar a dedo alguma gente. Dizem-me que muitos deles foram levados por pressão dessa vetusta mas parece que ainda eficaz figura manobradora que é Mário Soares. Não me interessa, não me leva a desculpá-los.
É gente adulta e que deve saber o que faz ao assinar manifesto tão triste, convencional, intelectualmente medíocre, centro-pantanoso (politicamente, “le marais”).
Afligem-me os nomes dos tidos como gente de esquerda, não me importa que me chamem de denunciante pidesco. Melhor até é começar pelos que fariam pensar na junção da assinatura: Adriano Moreira, Alexandre Soares dos Santos, António Lobo Xavier, Belmiro de Azevedo, Daniel Proença de Carvalho, Manuel Braga da Cruz, Maria de Fátima Bonifácio, Paulo Azevedo, etc. A direita sem disfarce, ou isso já não existe? Não pensaria duas vezes em pôr o meu nome ao seu lado?
Tudo com a cobertura dos “senadores”, cada vez mais balofos, mais insignificantes, mais embrulhados em retórica vazia: os ex-presidentes, mais outros veneráveis, espaldados em vago passado de pergaminhos de vanguarda ideológica, hoje instalados em fundações e outras instituições respeitadas. E claro que, ridículo dos ridículos, oh gente do meu tempo, António Barreto.
A seguir, grande lista de “intelectuais”, artes e ciências, que quase por natureza da sua mentalidade especial, nunca sabem nada de política, nem devem ter percebido patavina do que subscreveram, deviam escrever só do que sabem mas não resistem a emprestar o seu renome cultural à conhecida porca. Também os funcionários, os dignitários do regime, lamentavelmente, para mim, com destaque para o meio académico e científico, reitores e investigadores reputados, bom número de prémios Pessoa.
Pior, muito pior, indesculpável, é ver preto no branco as assinaturas de gente que marca a nossa memória antiga e recente da coerência de esquerda radical ou que nunca desmentiram a sua simpatia por essa esquerda. Mais vergonhosamente, quem, mesmo depois dessa subscrição, continuou a fazer a sua demagogia esquerdista.
Será que cheguei à situação surrealista de dizer que, neste panorama da nossa “intelectualidade”, acabo por reconhecer maior mérito e coerência é a pessoas como Pacheco Pereira ou Pulido Valente?
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