sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Contra os ladrões, marchar, marchar!

Correia Pinto, no Politeia, chamou-me a atenção para uma entrevista que não tinha visto, de José Manuel Coelho. Muito bem, a par de se poder considerar o homem apalhaçado, oportunista que concorre por um partido quase fantasma de direita, CP valoriza outro aspecto de Coelho: “um homem sem medo”.

A entrevista explica bem o sucesso que ele teve na Madeira, vitória em três concelhos, inclusive Funchal. Querem saber quem são os “poderes coloniais” que muitos, desde a Flama a Jardim, sempre disseram que exploravam o “povo madeirense”? Coelho diz sem papas na língua: pai e filho Ramos a controlar os preços dos materiais da construção civil (note-se o peso deste setor na política de betão de Jardim), os irmãos Sousa a controlar os portos, as impo-exportações e os preços dos bens essenciais, muitos outros. Tudo gente do PSD e do círculo íntimo de Jardim. Deixa de fora Jardim, como também nunca ninguém acusou de venalidade um Salazar que colocava nos conselhos de administração os seus afilhados políticos, os Ramos atlânticos de agora. Saborosamente, diz de Jardim que o que o move é comer e beber bem. Claro que, como Salazar, principalmente o enorme prazer do poder, o grande afrodisíaco.

Mas porquê só agora este impacto de discurso de oposição ao jardinismo? Parece-me óbvio que por uma razão simples: a mensagem, no âmbito de uma campanha presidencial, chegou a toda a gente, não pôde ser censurada na Madeira pelo comprovado poder intimidatório de Jardim sobre a comunicação social.

Gente dos partidos, como ele diz, cuidem-se. Este homem, sem programa, sem aparelho, com boa dose de populismo e mesmo de demagogia, pode vir a ser o nosso "mãos limpas" e, principalmente, o homem porventura cada vez mais ouvido pela gente que está zangada e que precisa de alguém que por ela dê murros na mesa. Tenho receio do populismo e detesto a demagogia, portanto não estou a propagandear Coelho, mas tenho de estar atento a este caso. Como "discurso político diferente", Nobre é toscamente aprendiz de Coelho.

P. S. - E a denúncia deliciosa de Arnaldo de Matos, madeirense, com Garcia Pereira a reboque, a exercer influências na Relação para proteger Jardim da justiça! “No comments”, não tenho dados. Mas que a promiscuidade MRPP-PSD é velha e relha é bem sabido. Durão Barroso que o diga.

2 comentários:

  1. O populismo no sentido mais corrente do conceito, como modo de exercício do poder ou de a ele ascender, consiste na referência indistinta ao povo como um corpo homogéneo portador de interesses indiferenciáveis fundíveis num mesmo denominador comum.
    Depois de ter passado algum tempo a ver vídeos, acho que o discurso do Coelho é mais do que isto. Ele tem uma ideia de sociedade igualitária, servida por um poder que não tem outra justificação que não seja a de pôr em prática um projecto que sirva aquele objectivo.
    E mesmo quando diz que a gente nova, os jovens, não são nem querem saber "dessa coisa de esquerda e de direita" - o que eles querem é um poder que os ajude a resolver os seus problemas - ele fá-lo muito bem e sem nenhuma demagogia. Ou seja, ele aceita essa atitude, mas tem sempre presente que somente mediante uma política de esquerda se pode dar satisfação àqueles interesses.
    Às vezes os nossos preconceitos intelectuais não nos deixam ver bem as coisas. O Coelho talvez tenha feito muito mais num mês, do que nós com muitos escritos ao longo da vida. Embora eu saiba, e ele também sabe, que uma coisa depende da outra...
    CP

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  2. "a gente nova, os jovens, não são nem querem saber "dessa coisa de esquerda e de direita" - o que eles querem é um poder que os ajude a resolver os seus problemas"

    Muito bem, Zé. Como já escrevi tantas vezes, a pedra de toque para uma esquerda eficaz, hoje, é chegar a todos esses muitos jovens que não querem saber dessa tal coisa. A retórica dos 60s é a nossa excelente memória, mas não nos ajuda hoje a atuar. A menos que, aos 60s, já aceitemos não atuar.

    Voltando à entrevista, devo fazer uma confissão, para não se pensar que estamos em discordância. Como já te tenho dito, a tua credibilidade e integridade políticas permitem-te o luxo de alguns "atrevimentos". Eu, se quero transmitir alguma coisa, tenho de ser mais cuidadoso. Neste caso, não dar pretexto a desviarem-me para acusações de populismo. Com isto, o teu comentário provoca-me a abrir essas defesa :-)

    Ainda uma nota, sobre o que dizes "ele também sabe", repare-se que, ao contrário dos velhos, rapazes e burros da demagogia à Crespo, Coelho faz referências explícitas à sua ligação afetiva/política ao 25 de Abril.

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