Porque, depois, as más notícias. Berlim, sempre Berlim, exige, como contrapartida, muito maior espartilho no controlo do défice pelos países “irresponsáveis”. "Queremos um pacote abrangente e isto significa, naturalmente, além das medidas de curto prazo, uma melhoria do pacto de estabilidade e crescimento e da coordenação económica" dos países europeus, disse ontem o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble. O que significa “coordenação económica”? Que grande conversa que isto daria.
A Alemanha continua a opor-se intransigentemente ao lançamento de títulos de dívida europeus (“eurobonds”) e à compra de títulos de dívida soberana no mercado secundário pelo EFSF em substituição do Banco Central Europeu (coisa que o BCE tem feito bem, mas contra os tratados).
Os 4.6% de défice orçamental anunciados pelo governo português, com os sacrifícios que conhecemos, já não são suficientes. Desta vez, nem foram alemães a dizer, foi o ministro belga. Segundo o Público de hoje, "há uma grande especulação sobre se há meios suficientes [no EFSF] para ajudar Portugal e sobre o que acontece se outros países seguirem o mesmo caminho” (…) "isto só tem sentido se se acelerar a consolidação dos nossos orçamentos". E também: "O que precisamos agora é que os países com défices elevados ultrapassem as expectativas do mercado", confirmou o ministro sueco, Anders Borg, defendendo que a falta de disciplina orçamental "é a principal causa" da especulação.
Alguém já provou sem margem para dúvida que o problema principal é o défice orçamental? Qual é o défice dos EUA e dos BRIC, que estão a sair por cima da crise em que estamos afogados? Mas a pressão sobre o nosso défice é irresistível e certamente que, ainda este ano, virá um novo PEC, acordado entre todos os serventuários do capital, governo e “oposição” de direita.
Referi a Alemanha e seus vassalos. Disseram-me já mais do que um amigo, parece que é opinião a valer por aí, que esses centro-nortenhos são gente ajuizada e que não regabofaram como nós e outros periféricos sulistas, não têm de pagar os nossos desvarios. Afinal, os nossos desvarios não teriam sido possíveis, na eurolândia, sem movimentos de capital/crédito dos ajuizados para os irresponsáveis. Não teriam sido possíveis se não tivéssemos continuado a manter a perspetiva do estado social, mesmo com muita erosão, em vez de seguirmos a política de desvalorização interna, dos custos laborais, em que assenta a competitividade externa da Alemanha e seus seguidores.
Nota - Insisto em que tenho o sentido de modéstia intelectual do desconforto de, não sendo economista, achar que a economia política é hoje o centro do discurso político. Por isto, estou pronto a aceitar que escritos como este sejam asneira tecnicamente infundada. Mas sou cidadão, político, eleitor, e não me limito a aceitar opiniões de especialistas de serviço, neste caso economistas, principalmente quando vejo que o seu discurso tem muito mais de ideológico que de científico.
Volto a dizer: nas próximas eleições, claro que vou pensar muito no que o governo vai fazer em S. Bento, mas vou pensar muito mais no que o governo vai fazer em Bruxelas.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário. Os comentários de leitores não identificáveis não serão publicados.