quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lula, o "analfabeto"

Recebi uma mensagem de correio eletrónico, daquelas que se amplificam como os santinhos de S. Judas Tadeu da minha infância, sobre o sucesso de Lula, comparado com o que tinha feito o académico Fernando Henriques Cardoso. Em geral, são fraudulentas, mentirosas, manipuladoras, muitas vezes caluniosas. Esta é só estúpida, já explico porquê.
Apresenta-se um quadro comparativo, com uma grande lista de aspetos políticos, económicos e sociais. Todos mostram uma espetacular “performance” de Lula (admita-se que em alguns casos e em parte com base em trabalho inicial de FHC). Em termos de grandes números, aceito muito bem o que o autor escreve, porque são dados publicados repetidamente pelos maiores e mais isentos analistas. Por isto, aceito a conclusão, que até vai de encontro ao que já escrevi. Porque é que Lula, agora desocupado, não vem governar Portugal? Ou então, se quem fez isto foi um “analfabeto” (ou "anarfa", como ele diz), o que teria ele feito se fosse um académico ( cuidado, lembremo-nos do sacristão de St. Paul’s, de Somerset Maugham).
Qual é então a estupidez? É que o autor do blogue que publica a tal tabela parece que não tem confiança nos seus próprios conhecimentos ou não se deu ao trabalho de recolher e citar as suas fontes de informação. Foi mais fácil escrever que tudo vinha no “The Economist”. É falso, como desde logo apontaram comentadores do tal blogue e como eu confirmei agora, tanto mais fácil quanto o bloguista até mostra a capa, número e data da edição da revista. “Não havia necessidade…”. Ai, a net!
Mas o gráfico que ilustra este “post” é mesmo do Economist e mostra a evolução da percentagem da população em situação de pobreza extrema e do índice "gini" de desigualdade sócio-económica. Ambas estáveis até ao fim de 2002, termo dos mandatos de FHC, em correção acentuada a partir das presidências de Lula. Obra de FHC, como dizem alguns bem-pensantes, até genuinamente de esquerda? Então porque raio nem um bocadinho em 2001 ou 2002, ainda a premiar o "trabalho" de FHC ou um pouco de demora até 2004?
P. S. - Vejam um grande discurso de um “anarfabeto” metalúrgico! 



Demagogia, dirão. Talvez um pouco, mas eu sinto como grande grito de alma. Além do mais, uma extraordinária peça literária, de oratória. Há algum político português capaz disto? E mesmo em todo o mundo, fora Obama e Mandela (que Lula refere com grande maestria)? Eu sei quem, no túmulo, delirou com isto, de gozo e de prazer intelectual e ideológico, Bento de Jesus Caraça, o da “Cultura Integral do Indivíduo”.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário. Os comentários de leitores não identificáveis não serão publicados.