O mercado é opaco e há informações certamente difíceis de obter. Quem compra e quem vende? Em muitos casos, parece-me informação bem importante, com consequências práticas. Na quarta-feira passada, o leilão de obrigações da dívida pública portuguesa foi apresentado como um sucesso, como prova de que os mercados ainda têm a confiança suficiente para acorrer à compra. Três vezes maior a procura do que a oferta, em tempos de desconfiança e ataque à dívida portuguesa, e até em contradição com a taxa de juro, parece-me maná.
Tenho-me perguntado, sem conseguir resposta, uma coisa que talvez pareça teoria da conspiração: não há uma entidade especialmente interessada em comprar, se calhar por meio de bancos testas de ferro, para dar ideia de que o mercado, difusamente, estava a comprar e, indiretamente, a respeitar o euro? Julgo que sim, embora, ao que me conste, isso seja ir contra as regras e os tratados. Também contra todo o discurso neoliberal europeu ainda vigente e contra o seu RDM económico-financeiro. Julgo que sim, que há tal entidade, porque por detrás das públicas virtudes há vícios privados. É o próprio Banco Central Europeu.
É coerente com o pavor que um ataque sério a Portugal contagie a Espanha. Enquanto a eurolândia tiver de lidar com "bailouts" de países pequenos e periféricos, aguenta-se. Espanha seria um terramoto de grau capaz de ameaçar a derrocada do edifício do euro.
P. S., 15:11 - Afinal, estava enganado. Verifico que o BCE tem comprado dívida de vários países o que, portanto, não deve ser contrário aos tratados, como pensava.
P. S., 15:20 - Afinal, afinal, talvez não esteja assim tão enganado. Agora fiquei confuso, ao ler um artigo sobre este assunto no Jornal de Negócios, já de há alguns meses, nomeadamente este parágrafo: "Este passo de avançar para a compra de dívida pública dificilmente não representará uma violação grosseira dos Tratados europeus, que vedam expressamente a intervenção do BCE em operações de socorro a países em risco de incumprimento." Alguém me esclarece e aos meus leitores?
Estás de facto afectado pela teoria da conspiração. É que de texto em texto a tua visão parece atacada de catastrofismo! então o mercado (de que tu não gostas mas ao qual depois da perestroika e da queda do muro não se vê alternativa aliás: já antes não se via a menos que todos quisessem ser pobres) vai ao leilão e por serem em triplicado as compras há rateio; então o mercado (essa fantasmática entidade atrás da qual pelos vistos descobriste um "Reich" alemão...???) diminui a pressão e tu só tens em mira o perigo da Espanha cair?
ResponderEliminarclaro que a queda da Espanha seria desastrosa para o euro. Mas por que bulas não há-de o BCE defender a moeda única? Acaso a China não defende a sua e os EUA ou o Japão as suas?
eu sei (cruelmente sei e cor a dor no lombo da porrada) que por vezes as nossas analises se revelam infundadas. Estou farto de me enganar (e de acertar, também) e isso chateia-me.
Todavia, já não dou para a conspirata. Mesmo se desconfie que a China, o Brasil, angola ou o Qatar possam estar interessados... o capitalismo é isto, nem é preciso ter lido o Capital.
O que me espanta nesta guerrilha de palavras em que a imprensa menos Carlos Castro anda empenhada é a completa obnubilação dos erros portugueses, e já nem falo do Governo ou da Banca mas tão só dos simples cidadãos!
Hoje mesmo li que o futuro metro do Mondego cuataria sete vezes mais do que o anterior comboio custava. sete vezes mais! Em vez do milhão e meio de passageiros verificado seriam necessários dezasseis milhões. O Governo cortou o dito metro. todos protestam.um amigo meu diz que também os metros do Porto e de Lisboa dão prejuizo pelo que...
Estás a ver o que pretendo?
Daqui a dois ou três anos falamos...
ResponderEliminarCaro Marcelo
ResponderEliminarFoi depois da perestroika, mas já era antes ...
se não fosse assim éram todos pobres ... será que agora está tudo em vias de ficar rico? ... mas o capitalismo é isto ... e será que esta não é uma nova étape do capitalismo e que, pelo andar da carruagem, ele também há-de implodir ? ... e, se não implodir o dito, há-de implodir este? ... e, se implodir, vai ou não ser uma festa, um bacanal ? ... é claro que vai, nem é preciso ler o Capital ... mas alguma vez alguém o leu, como o Pechincha fez aos Lusíadas, até os sabia de cor? ... preocupam-te os erros do governo e os da banca, mas muito mais os dos cidadãos, incluindo os meus, presumo, e aí estamos de acordo, que me farto de gozar quando os governos e os bancos metem o pé na argola ... e o metro do Mondego, caraças ... mas isso não tem nada a ver connosco, é negócio da banca, da construção civil e de financiamento partidário ... no nosso tempo a malta ia a pé que o elétrico custava 8 tostões ...
Afinal, estamos de acordo, não é?
E estamos, sobretudo, em perfeita sintonia como JVC: daqui a 2 ou 3 anos falamos.
Abraço
Vitor
Caro Vítor
ResponderEliminarque o capitalismo não é flor que se cheiro sabêmo-lo desde esses anos em que à pata íamos por ruas e ruelas gastar a nossa dificil mocidade. Que a Banca e associados tentam levar-nos a melhor idem.
todavia o problema é outro como diria o velho barbudo: Trata-se de perceber o mundo e já agora de o mudar. Mais tarde a malta surrealista acrescentou, e bem, mudar a vida.
eu penso que a esquerda possível e actual terá de andar com estes dois pés sem no entanto estar de olho severo e lúcido no mundo que nos rodeia. Estou é contra as explicações metafisicas da crise, contra o mistério do 2mercado". É verdade que o João (este nosso, o VC) não cai nisso mas não é menos verdade que no ímpeto da sua escrita indignada ele permita que leitores menos atentos vejam bruxas onde as não há.
Disse e repito que JVC é, entre muitas outra qualidades públicas (e excelentes vícios privados), um comentador informado e inteligente do mundo que nos rodeia. O diabo da criatura é cientista e gastrónomo o que garante que ambas as qualidades estão refreadas no bom sentido. porém, lá no fundo, a escrita impetuosa permite que juntamente com as pepitas rolem alguns calhaus ou que isso pelo menos pareça.
Mas que este blog melhora o espaço de discussão pública e nos permite pensar e discutir ai disso não há dúvidas. só tenho um medo que esta conversata virtual nos impeça eventualmente de nos reunirmos em privado, em casa do gastrónomo para comer FINALMENTE um dos seus apregoados e louvados manjares. Estarei errado?
Quanto ao tema principal, continuo a minha reflexão no post seguinte.
ResponderEliminarAfinal, principal talvez não seja o termo correto. Principal não será antes a tal patuscada no "ninho da águia"? Fica aqui solenemente prometida.