Escrito por Nicolau Santos, no Expresso de 30 de junho, o que nos deveria ter feito prever as medidas de agora:
Se fosse outro Executivo, cairia o Carmo e a Trindade com acusações de incompetência e incapacidade para travar o despesismo do Estado. Ora perante um Governo que calculou que o IVA ia crescer 11,6% e está confrontado com uma descida de 2,8% até maio; com uma quebra nos impostos sobre veículos que estava prevista ser de 6,5% e já vai em 47% (!); com um recuo esperado de 2,1% no imposto sobre produtos petrolíferos, que ascende já a 8,4%; com um aumento no subsídio de desemprego de 23%, quando o Executivo apontava para 3,8%; e com uma quebra nas contribuições para a segurança social de 3%, quando se esperava apenas 1% - o que se pode dizer se não que se trata de um falhanço verdadeiramente colossal da equipa das Finanças e, em particular, do brilhantíssimo e competentíssimo ministro Vítor Gaspar?
Também para mais tarde recordar, tomar nota de que, com a mesma infalibilidade “científica”, o ministro garantiu agora que as mexidas nas contribuições laborais e patronais para a segurança social vão criar 50000 novos empregos e que o PIB crescerá 0,5% em dois anos só no que se deve a estas medidas.
Da mesma forma, as promessas, há meses, de que 2012 seria o fim da crise, com retoma em 2013 (embora com nuances de discurso entre Passos Coelho, Gaspar e o obscuro Álvaro), que tenho algures mas que agora não encontro. Também, ainda há dias, o anúncio de que o governo estava em condições de se apresentar no mercado primário de títulos de dívida já no segundo semestre de 2013, com emissão a curto ou médio prazo, para pagamento de dívida em vencimento.
É bom começar a fazer a lista de promessas e falhanços de Gaspar. Politicamente ou de outra forma, ele não poderá deixar de vir a ser responsabilizado pela sua irresponsabilidade dogmática, que lhe permite usar o país como cobaia para pôr em teste a sua ideologia (com a cumplicidade da troika, que também deseja este teste, ainda por cima em país alheio).
Gaspar começa a ser um problema de saúde pública, “um foco de infeção, peixe podre num bairro onde miam gatas”.
NOTA - Entretanto, num destes últimos dias, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, afirmou no seu parlamento que “os resultados macroeconómicos em Portugal mostram que as reformas do programa de ajustamento financeiro estão a surtir efeito”. A Europa política entrou em loucura? Como é que fanáticos ideológicos podem negar tão convictamente a evidência? Estamos nas mãos de quem?
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