Na sua crónica no Público, em 18.4.2012, Rui Tavares, eurodeputado eleito como independente nas listas do BE e hoje separado do BE, chama a atenção para a emergência de uma nova esquerda europeia. Concordo. Fala de Mélenchon e do Partido de Esquerda (Parti de Gauche, PG) francês, da Esquerda Democrática (ED) grega. Não me parece que os compare, o que seria abusivo em termos de posicionamento político e de posições programáticas.
Mas têm coisas importantes em comum. Primeiro, a ocupação de um espaço vazio, em ambos os casos, e também em Portugal, o de um socialismo com raízes na segunda internacional, mas sem renegar a herança marxista, e com a memória do que de melhor teve a social-democracia nórdica. Pessoalmente, desejo muito mais do que isto, mas bem gostaria que cá na casa o PS aparecesse assim.
No entanto, diferem nos sentidos opostos com que se moveram. O PG resulta de uma cisão da ala à esquerda do PS, e desloca-se da direita para a esquerda. A ED sai do Syriza (próximo do nosso BE) e vai da esquerda para a direita. O que interessa é a ocupação desse tal espaço, de esquerda firme, consequente, mas com oferta de soluções governativas, com cultura de poder e de governação, com propostas de luta forte contra o neoliberalismo e o pensamento hegemónico europeu, que nos está a impor o austeritarismo catastrófico. Com coragem de enfrentar os novos imperialistas e com determinação para a construção de uma frente de países periféricos que dê um murro na mesa da chancelaria de Berlim.
Esse espaço está vago em Portugal e não parece que possa ser ocupado por movimentos cisionistas que não se vislumbram, no PS, no BE, no PCP. Há quem aposte na convenção do BE, em fins deste ano, e na hipótese de fortalecimento, no partido ou fora dele, de um grupo portador da herança da Política XXI. “I don’t give a damn”.
Rui Tavares fala, em geral mas provavelmente pensando em Portugal, numa esquerda da moleza, que não se atreve a ocupar esse espaço. Grupos que se formaram nos últimos anos estão confortáveis em jantares de amigos e acham que o tempo não está para grandes atrevimentos.
Rui Tavares parece recusar esta esquerda de moleza e, ao mesmo tempo, sibilinamente, falando de experiências estrangeiras mas creio que pensando em Portugal, diz que “há uma coisa em comum: quiseram correr riscos e fazer parte da solução. Porque hoje há soluções para lá de manter a trincheira. Mas é preciso tentá-las.”
Como está a falar de novos partidos europeus, está também a falar de um possível novo partido português, de que tanto tenho falado? Está a declarar o seu empenho em tal projeto? Se é assim, vamos nessa, companheiro.
NOTA - Rui Tavares foi muito difamado quando deixou o grupo do BE no Parlamento Europeu. Eu não o critico. Se ele fosse militante do BE, era diferente. Eleito como independente, responde com a sua consciência perante os seus eleitores, não perante o aparelho do partido que o apresentou, com evidente lucro para esse partido.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário. Os comentários de leitores não identificáveis não serão publicados.