sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Será que estou errado?

Volto à entrada recente sobre o défice estrutural.  Ouvi (ontem, 15.12, 20:13) uma jornalista da RTP1 confundir défice estrutural e défice real ou total, referindo-se a uma intervenção parlamentar de Luís Fazenda, do BE. "Ignorância de jornalista de última geração", pensei, até sem que isso fosse coisa impensável. 

Mas, de imediato, passaram à tal intervenção e aposto que qualquer espetador médio pensaria que Fazenda, falando como falava do monstruoso limite de défice de 0,5%, não estava a falar de défice estrutural mas aparentemente daquilo de que as pessoas falam, o défice total limitado a 3%, segundo o PEC. Estava a dar a entender que o défice, sem mais especificação, terá de limitar-se a 0,5%, tanto mais que até comparou esse valor com défices atuais de 4,5 ou 5,9%. Ao fim e ao cabo, o que dizia era simplesmente isto: "se já estamos como estamos para garantir o máximo de  4 ou 5% de défice, como é que vamos poder chegar a 0,5%?". Eu acho que o austeritarismo é mau, com 5, 3 ou 0,5%. Mas para defender esta minha posição, não preciso de aldrabar números.
Quero crer que não foi coisa intencional. O BE tem bastos economistas, alguns bem conhecidos, como bloguistas, que, se percebessem que era truque do seu deputado, certamente ficariam indignados. E Louçã é professor de economia. Mas acho que, propositado ou não, foi erro inadmissível num discurso político. Ou então sou eu, leigo, que estou errado, que não percebo a diferença entre défice total, défice cíclico e défice estrutural.

Torturado por esta dúvida fiquei a matutar em coisa importante: nenhum deputado do triplo arco troikiano aproveitou este deslize para trucidar Fazenda. Conhecendo-se a alta competência e agudeza dos deputados, a probabilidade de isto acontecer é ínfima. Portanto, em conclusão, sou eu que estou errado. Que os meus caros leitores me desculpem. E até aceito que não me elejam como deputado.

NOTA - Mais uma vez, dir-me-ão amigos e gente respeitável das minhas bandas que estou a dar tiros no pé, a criticar a "esquerda", a dar munições ao inimigo. Não creio. Como escrevi antes, penso que só chega ao homem comum e honesto uma esquerda que seja honesta, incorruptível, não demagógica e com sentido da democracia real, participativa. Esta esquerda ainda não existe e é preciso que se diga isto, porque, quando ela aparecer, não é nada de semelhante à rigidez sectária do PCP ou à aldrabice do BE. Portanto, malhar "à esquerda" não é suicida, é rapar ervas daninhas, é abrir caminho para o que é preciso fazer-se caminhando e urgentemente. 

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