quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Eu quero ser alemã?"

A meu pedido, uma amiga muito querida passou a escrito uma conversa que tínhamos tido. Aqui vai.
"Não sou primariamente anti-alemã e sabes como até uso o exemplo do meu primo U…, de quem gostas tanto, que andou nas lutas de 68 e ainda hoje até é criticado pela minha prima como homem que não vive fora da sua esquerda. Mas parece-me que os alemães estão a fazer tudo para nos obrigar a responder à pergunta “eu quero ser alemã?”. Eu portuguesa, com gosto pela alegria de vida, não obrigada não quero ser disciplinada, submissa, a ceder os meus direitos individuais cegamente a favor da grande pátria, mesmo que me sentisse arrogante e orgulhosa.
Às vezes falas-me da grandeza alemã, dos músicos de que tanto gostamos e dos filósofos ou do teu querido Marx. Mas afinal que povo é esse que deu ao mundo toda essa grandeza mas também coisas horrorosas? E o Hitler foi eleito, tinha milhões de gente a apoiá-lo, depois da guerra ninguém da gente da rua fez a sua penitência. Os da RDA se calhar ainda foram piores e a Merkel vem de lá.
Não há dúvida é que eles são patriotas e se calhar nós temos vergonha de ser, por complexo do salazarismo. Como é que é possível estarmos a aceitar isto? Acho que tu também, quando entramos na Europa, pensavas que era um sonho bonito, a nossa cultura comum e a solidariedade. Que solidariedade é esta, só de egoismo, de rivalidades económicas, de desprezo do norte pelo sul que não tem nada de se envergonhar como civilização?
Se calhar nunca houve a solidariedade que pensavamos no tempo das ajudas europeias. Afinal, foi quando os interesses já fizeram a destruição da nossa agricultura e da nossa pesca e não percebemos que já era perdermos independência. O que nunca houve foi esta coisa incrível de até quererem mexer na nossa constituição. Eu era muito mais jovem do que tu na constituinte, mas lembro-me muito bem do que foi a ideia de ter uma constituição. Como lês muita história, diz-me lá se te lembras de alguma vez na história alguém ter imposto a outro povo a mudança da sua constituição.
Mas vamos ver bem, esta Europa é possível? Não é uma fantasia de uns iluminados? Os povos europeus nunca foram iguais e sem serem iguais podem fazer uma união artificial contra a história?"

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