segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Saudades dos tempos da miséria (dos outros...)?

“Vi uma manifestação de pais, alunos e professores de uma escola pública, onde, dizem eles, chove em alguns locais e faz frio porque não há aquecimento na escola. Eu entrei para o ensino numa escola pública de uma aldeia da Serra do Marão. Todos chegávamos a pé, por montes e vales, sob um frio indescritível, e alguns chegavam descalços. Não havia, obviamente, qualquer aquecedor na única sala de aulas, em granito, onde se amontoavam todos os alunos, da 1ª à 4ª classe, com uma única professora - que não faltou um dia do ano. Não havia cadernos nem canetas, havia giz e lousa. O 'recreio' era um pequeno descampado de terra, onde jogávamos futebol com uma bola de trapos. Mais tarde, frequentei um liceu público, em Lisboa, onde também não havia aquecimento algum, o único recinto desportivo era um desmantelado campo de basquete em cimento, onde tentávamos jogar futebol de sete, e no barracão que fazia de ginásio, tínhamos de começar por limpar com esfregonas a água da chuva que caía do tecto. Que eu saiba, não morreu ninguém e, quem quis, estudou.”
Escrito por Miguel Sousa Tavares, no Expresso, 5 de Fevereiro de 2011. Sem comentários.

1 comentário:

  1. MST, no seu melhor! O elogio da miséria. Lembrei-me, e sei a razão, da frase "beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses". Que comentário tão salazarento! E arrepia, vindo de quem vem.
    Maldonado

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