terça-feira, 15 de outubro de 2013

Um messias pouco sério

Começa a custar-me falar sequer de Rui Tavares (RT), de gastar cera com tão ruim defunto. Ainda ontem escrevia na minha página do Facebook, comentando uma entrada do “O Tempo das Cerejas”, que “Também acho que devo dizer que não tenho nada contra o homem, mas lá que me faz mossa na minha ideia de honestidade intelectual e política, é verdade. Além de tonto, em termos de ideias políticas”

Gostava de o ignorar – até porque me parece que já é politicamente irrelevante e que ninguém o leva a sério. Mas não posso deixar de comentar a enormidade que escreveu há dias no Público e que agora transcreve para o seu blogue.
“Décadas após a Grande Depressão dos anos 30 falou-se muito do espírito de uma época à beira da revolução. Mas essa não foi a descrição feita pelas pessoas do tempo. Estas falavam antes do desânimo e da apatia, da sensação de que a sociedade estava a vaguear sem saber muito bem para onde. Um historiador citando diários, cartas e artigos da época fala de um “pessimismo sem fundo”, uma “estranha paralisia tomando as energias” dos países, uma “bancarrota política” de todos os partidos, uma sociedade “esperando sem qualquer esperança que o vento mude de direção”. Mais do que qualquer desejo de mudança, foi a desilusão com a política parlamentar que levou à ascensão dos totalitarismos na Europa. 
Portugal já vivia em ditadura nessa época. Era o tempo em que a oposição, alcunhada de “o reviralho”, tentava todo o tipo de golpes e levantamentos, greves e ações revolucionárias para acabar com aquilo a que, passado algum tempo, se chamaria apenas “a situação”. Quando se percebeu que “a situação” iria continuar a ser “a situação”, o reviralho foi substituído pelo reviralhismo, uma mera atitude conspirativa sem resultados práticos, uma desconfiança permanente entre os setores da oposição que acabava transformando os aliados em adversários, uma incapacidade de mudar essas regras mentais do jogo, uma impossibilidade de ser ousado e cruzar as linhas das respetivas trincheiras, uma expectativa permanente pela próxima jogada, o próximo golpe, a próxima individualidade. 
E é nessa situação que estamos hoje: esperando que as coisas mudem sozinhas.”
RT é historiador e, como tal, tem responsabilidades acrescidas. Reduzir a oposição antifascista, durante décadas, ao “reviralho” (que ele também chama de “reviralhismo”, em fase posterior, coisa que nunca tinha lido), tipicamente a concepção e (in)acção do remanescente do republicanismo e das correntes políticas burguesas e maçónicas, é espantoso.

RT não ouviu falar da Marinha Grande (independentemente dos seus erros), da revolta dos marinheiros, do Tarrafal, de muitas e muitas greves, de levas contínuas de presos políticos torturados, do MUD, do movimento associativo estudantil, da ARA, da LUAR e das Brigadas, das deserções da guerra colonial, das rádios de Argel e Bucareste, das CDE de 1969, etc., etc.? Tudo isto foi reviralhismo “sem ousadia”, sem “cruzar as linhas das próximas trincheiras”, “esperando que as coisas mudem sozinhas”? Não sei que idade tem RT. Só por isto admito que não faça sentido a pergunta: onde estava então a ousadia de RT?

RT é egocêntrico, considera-se visivelmente o salvador messiânico da esquerda, por via de uma unidade que, à falta das propostas de RT nunca formuladas (a não ser uma delirante “A grande valorização”), vá apenas pela sua fé nele. Considera-se talvez o missionário em Portugal da fé na fada europeia. Escreve coisas subjectivas, sem fundamentação e com primarismo teórico. Em relação a tudo isto, está no seu direito. Não tem é o direito de deturpar tão escandalosamente a história. A menos que seja simplesmente tonto. 

NOTA – Nova nota sobre RT será quando ele for novamente candidato a eurodeputado. Já que não o será pelo BE, tenho o palpite sobre por que partido será. Ai, a unidade...

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